Maria de Lourdes Castro (n.1934) conclui, em 1954, o Curso de Pintura Cerâmica da Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde foi contemporânea de Cecília de Sousa (n.1937) e aluna de Manuel Cargaleiro (n.1927).
Nesse mesmo ano é convidada a trabalhar na Viúva Lamego, fábrica com enormes responsabilidades na renovação da cerâmica moderna, onde já trabalhavam outros autores como Jorge Barradas (1894-1971), Querubim Lapa (n.1925) e Manuel Cargaleiro.
Nesse mesmo ano é convidada a trabalhar na Viúva Lamego, fábrica com enormes responsabilidades na renovação da cerâmica moderna, onde já trabalhavam outros autores como Jorge Barradas (1894-1971), Querubim Lapa (n.1925) e Manuel Cargaleiro.
A sua permanência nesta unidade fabril foi curta, tendo ingressado na Fábrica de Loiça de Sacavém em 1955, onde passa a ser responsável pela Secção de Cerâmica Moderna, criando um espaço próprio onde pôde desenvolver as suas pesquisas formais e técnicas.
Neste contexto dá início à série Arte Nova, da qual fazem parte as peças aqui publicadas.
Outras peças da mesma série:
Entre 1959 e 60 passa pelas Caldas da Rainha, trabalhando como pintora na SECLA, sendo o contacto com as práticas de trabalho realizadas no Estúdio, fundamental para a sua formação.
Neste contexto dá início à série Arte Nova, da qual fazem parte as peças aqui publicadas.
Outras peças da mesma série:
Entre 1959 e 60 passa pelas Caldas da Rainha, trabalhando como pintora na SECLA, sendo o contacto com as práticas de trabalho realizadas no Estúdio, fundamental para a sua formação.
Seguidamente parte para Faenza, Itália, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, onde, durante a primeira metade da década de 60, se especializa em Laboratório e Tecnologia de Cerâmica, Pintura Cerâmica e Restauro Antigo e Moderno, no Instituto Statale d'Arte per la Ceramica Gaetano Ballardini.
Entre 1972 e 73 volta a desenhar e produzir peças para a F. L. Sacavém, passando em 1979 a desempenhar funções de consultadoria, assumindo a responsabilidade da recuperação de decorações e formatos antigos de loiça de Sacavém, bem como a criação de novos modelos, funções que desempenhará até 1982.
Maria de Lourdes Castro - prato, Fábrica de Loiça de Sacavém. © CMP
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Maria de Lourdes Castro - detalhe de prato, Fábrica de Loiça de Sacavém. © CMP |
Maria de Lourdes Castro - castiçal, Fábrica de Loiça de Sacavém. © CMP |
Maria de Lourdes Castro - castiçal, Fábrica de Loiça de Sacavém. © CMP |
Os objectos acima reproduzidas estão expostos na mostra A Geometria das Cores, que apresenta uma selecção de peças e desenhos de inspiração geométrica, produzidos entre as décadas de 30 e 60 e estará patente no Museu de Cerâmica de Sacavém até 31 de Dezembro de 2011.
Nas peças aqui apresentadas é notória a proximidade formal com a produção contemporânea do seu antigo mestre Manuel Cargaleiro, como pode verificar-se pelo painel de azulejos abaixo reproduzido, com notações gráficas semelhantes, ainda que com uma paleta de cores reduzida a tonalidades frias.
Manuel Cargaleiro - painel de 6 azulejos, 29 x 43 cm, 1954. FASVS |
Maria de Lourdes Castro numa aula do pintor Manuel Cargaleiro, c.1953. Imagem publicada no catálogo Maria de Lourdes Castro: Uma Exposição Biográfica, edição do Museu Nacional do Azulejo, 2005. |
As Artes Decorativas do pós Guerra recuperam as linguagens abstractas desenvolvidas no período entre as Guerras, originárias das propostas das Primeiras Vanguardas.
Muitos dos elementos estilísticos presentes na pintura e na escultura são importados para os objectos de uso quotidiano, possibilitando a inovação, tanto nas formas e volumes como no tratamento plástico das superfícies, como é notório na produção cerâmica de carácter modernista.
Maria de Loudes Castro partilha as tendências do momento, articulando grafismos, cores e texturas na criação de uma linguagem própria e individual.
Nas peças anteriores à estadia em Faenza, podem ainda sentir-se os ecos da obra do seu mestre Manuel Cargaleiro, com quem reconhecidamente partilha orientações estéticas, bem como de outros pintores de referência para a década de 50, como Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992).
Maria de Lourdes Castro - prato, 5 x 30 x 23 cm, com punção ARTENOVA e carimbo da F. L. de Sacavém na base, c.1958-59. Imagem publicada no catálogo Maria de Lourdes Castro: Uma Exposição Biográfica, edição do Museu Nacional do Azulejo, 2005. |
Maria de Lourdes Castro - fruteira tripé, 20,2 x 29 x 15,5 cm, 1958. Imagem publicada no catálogo Maria de Lourdes Castro: Uma Exposição Biográfica, edição do Museu Nacional do Azulejo, 2005. |
Maria de Lourdes Castro - prato, Fábrica de Loiça de Sacavém, 1957. Mercador Veneziano |
Maria de Lourdes Castro - detalhe de prato, Fábrica de Loiça de Sacavém, 1957. Mercador Veneziano |
Maria de Lourdes Castro - prato, Fábrica de Loiça de Sacavém, 1957. Mercador Veneziano |
Marca na base, 1957. Mercador Veneziano |
Maria de Lourdes Castro - grande prato da série ARTENOVA, F. L. Sacavém, c. 1960. © MAFLS |
Marca na base. © MAFLS |
Do Abstraccionismo Lírico de Kandinsky (1866-1944) às experiências de Paul Klee (1879-1940), passando pelas pesquisas geométricas de Mondrian (1872-1944) e Malevitch (1879-1935) ou ainda pelo Futurismo ou o Raionismo russo, muitas podem ser as referências paras as composições abstractas do pós Guerra.
Nestas variações decorativas desenvolvidas por Maria de Lourdes Castro, encontramos jogos de linhas diagonais ou curvas, delimitando formas irregulares preenchidas com cores planas que contrastam com fundos de fortes texturas visuais.
Wassily Kandinsky, Composição X, 1939. |
Vieira da Silva, Paris de Noite, 1951. |
Maria Helena Vieira da Silva, guache sobre tela, assinado e dedicado a Manuel Cargaleiro, 1952. MMC |
Vieira da Silva, cuja obra, apesar de se desenvolver no seio da chamada Escola de Paris, parece evocar a quadricula da azulejaria portuguesa através de tramas e teias dinâmicas, estabelece uma proximidade com Manuel Cargaleiro no início da década de 50.
Esta cumplicidade durará até a sua morte, nos Anos 90, e deverá manifestar-se de várias formas em diversos momentos das obras dos dois artistas.
Esta cumplicidade durará até a sua morte, nos Anos 90, e deverá manifestar-se de várias formas em diversos momentos das obras dos dois artistas.
É portanto natural que peças produzidas na década de 50 por Manuel Cargaleiro, como o desenho decorativo para um prato da Vista Alegre abaixo reproduzido, evoquem de algum modo a obra da pintora, fornecendo o contexto ideal ao desenvolvimento dos traçados decorativos de Maria de Lourdes Castro da mesma década.
Manuel Cargaleiro - desenho decorativo para prato da Vista Alegre, 1956. © MAFLS |
CMP* agradece a cedência de imagens aos autores dos blogues:
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