sábado, 25 de fevereiro de 2012

Jarro da série "Arte Nova"- Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém

Nos anos 50 a Fábrica de Loiça de Sacavém dá início à série Arte Nova, com a finalidade de renovar o design da sua produção, modernizando-o de forma a acompanhar as propostas de outras fábricas nacionais como a SECLA ou a Aleluia. A escolha da designação Arte Nova, responsável por alguns equívocos, já que nada tem a ver o movimento Art Nouveau, remete para dois conceitos fundamentais: a modernidade das formas e a sua base natural, uma vez que todas elas revelam uma liberdade biomórfica, também ela característica da Art Nouveau, mas aqui já sob influência dos movimentos escandinavos emergentes na década de 40 e a cerâmica italiana da década de 50.

Outras peças da mesma série:
Barco da série "Arte Nova" - Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém
Varinas da série "Arte Nova" - Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém
Desenhos da série "Arte Nova" - Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém
Pratos e Castiçal - Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém
Prato, garrafa e copos da série "Arte Nova" - Maria de Lourdes Castro - Fábrica de Loiça de Sacavém
Este jarro(a), parte da série Arte Nova, apenas marcado "Sacavem", aparece referenciado na folha de modelos da fábrica com a designação A-21 Jarra nº 4, podendo nele reconhecerem-se as  referidas características, a acrescer a uma enorme liberdade formal associada ao experimentalismo na utilização dos esmaltes, tanto na cor como nas texturas.


Maria de Lourdes Castro - Jarra nº 4 A-21, 24 x 22 cm, c.1960, FLS. © HPS



Maria de Lourdes Castro - Jarra nº 4 A-21, detalhe, c.1960, FLS. © HPS



Maria de Lourdes Castro - Jarra nº 4 A-21, detalhe, c.1960, FLS. © HPS



Maria de Lourdes Castro - Jarra nº 4 A-21, detalhe, c.1960, FLS. © HPS



Maria de Lourdes Castro - Jarra nº 4 A-21, detalhe, c.1960, FLS. © HPS



Maria de Lourdes Castro - Jarra nº 4 A-21, detalhe, c.1960, FLS. © HPS



Fábrica de Loiça de Sacavém - Jarra nº 4 A-21, marca de fábrica. © HPS


Concebidas por Maria de Lourdes Castro (n.1934), no período entre 1955 e 1959, as peças da série Arte Nova apresentam  características comuns no que diz respeito aos vidrados e às texturas, tirando partido dos escorridos, de modo a transpor para a cerâmica  a componente matérica típica do Informalismo ou o Expressionismo Abstracto, correntes artísticas dominantes nas décadas de 40 e 50.  Como pode verificar-se pelas peças abaixo reproduzidas.


Maria de Lourdes Castro - Cinzeiro Sempre em pé A-5, 6 x 13 x 11 cm, 1958-1959. Imagem publicada no catálogo Maria de Lourdes Castro: Uma Exposição Biográfica, edição do Museu Nacional do Azulejo, 2005.

Maria de Lourdes Castro - Jarro n.º 1 A-33, 23 cm de altura, c.1960, FLS. MdS Leilões


Abaixo pode ver-se outro gomil da série Arte Nova, produzido no final da década 50, com marca manuscrita na base "F. L. Sacavém A-44 B". Esta série manteve-se em produção até finais da década de 70.


Maria de Lourdes Castro - Jarro N.º 5 A-44, 35 x 15 cm, FLS. Camões Institute Center


Este tipo de forma foi ensaiado um pouco por toda a Europa, especialmente na Alemanha e em Itália, podendo também ser encontrado na América do Norte, de onde destacamos as peças fabricadas pela canadiana Blue Mountain Pottery.
Da produção italiana damos como exemplo um gomil da autoria de Matteo Di Lieto (1920-1970), célebre ceramista de Amalfi.  
Di Lieto fundou a oficina Arte Ceramica Amalfi em 1940, aí trabalhando até 1970, ano em que faleceu. O seu filho Gaspare continuou a tradição do uso de vidrados experimentais sobre formas elementares, até ao fecho da empresa em 2006, no entanto, os anos mais profícuos em experimentalismo e inovação foram para Di Lieto as décadas de 50 e 60.
O seu trabalho pode hoje ser visto no Museo della Ceramica, em Vietri sul Mare, um dos centros de maior tradição na cerâmica italiana.


Matteo Di Lieto - gomil, 33,5 cm de altura.

Matteo Di Lieto - gomil, 33,5 cm de altura.

Matteo Di Lieto - gomil, detalhe.

Matteo Di Lieto - gomil, marca de fabrico.

Por último, alguns exemplares concebidos na fábrica de cerâmica Zsolnay, situada em Pécs, na Hungria.
A Zsolnay estabeleceu-se em 1853, continuando a laborar na actualidade. Desempenhou um papel relevante no movimento de renovação das artes aplicadas desenvolvido durante a segunda metade do século XIX, procurando o crescimento tanto artístico como industrial. A fábrica conseguiu alcançar estes objectivos com enorme sucesso nacional e internacional, abraçando opções estéticas individuais de originalidade significativa e aderindo rapidamente às propostas modernistas da Secessão austríaca.
Após a II Guerra Mundial, a Zsolnay desenvolveu peças inovadoras, tanto formal como conceptualmente, sendo especialmente conhecidas as revestidas com esmaltes de eosina verdes e vermelhos. Das últimas, aqui mostramos alguns exemplares biomóficos com revestimento craquelé, de vários autores, datados da década de 60 do século XX.


Gabriella Törzsök - gomil, 31,5 x 12 cm, Zsolnay. eBay


Gabriella Törzsök - gomil, 31,5 x 12 cm, Zsolnay. eBay


Gabriella Törzsök - gomil, 31,5 x 12 cm, Zsolnay. eBay

Gabriella Törzsök - gomil, 31,5 x 12 cm, Zsolnay. eBay

Gabriella Törzsök - gomil, marca de fábrica. eBay


János Török - floreira tripé, 10,5 x 13 cm, Zsolnay. PorcelanaBrasil


András Sinkó - jarro zoomórfico, 25,4 x 15cm, Zsolnay. eBay

András Sinkó - jarro zoomórfico, 25,4 x 15cm, Zsolnay. eBay

János Török - jarro zoomórfico, 25,4 x 15cm, Zsolnay. eBay

András Sinkó - jarro zoomórfico, detalhe, Zsolnay. eBay

András Sinkó - jarro zoomórfico, detalhe, Zsolnay. eBay

András Sinkó - jarro zoomórfico, marca de fábrica. eBay



CMP* agradece a todos os coleccionadores a cedência de imagens de peças das suas colecções.
Agradece ainda, as indispensáveis informações cedidas pelo blogue Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém, as imagens cedidas pelo blogue Porcelana Brasil, os esclarecimentos prestados pelo investigador Walter del Pellegrino e, especialmente, os preciosos dados enviados pelo Museu de Cerâmica de Sacavém.




11 comentários:

  1. Boa tarde CMP,
    Antecipou-se (LOL) na publicação deste tipo de peças Zsolnay. Um dia destes vamos postar alguns exemplos anos 50 dessa fábrica. Quanto à série Arte Nova de Sacavém, também a haveremos de ilustrar. Estes exemplos são as tais fugas de que falámos ao rumo das nossas coleccções. Por vezes apetece-nos ...
    Bjs

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  2. Caros AM-JMV,
    sem antecipações.
    Queremos ver mais exemplares, tanto da Zsolnay como da série Arte Nova. Venham eles!
    Espero que continuem a expandir as vossas colecções, sem evitar fugas e outros devaneios.
    Saudações,
    CMP*

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  3. Boa tarde, parabéns pelo seu blog e, muito obrigado pela partilha de imagens e de informações. A primeira peça é também da autoria de Lourdes de Castro e tem a sua designação dentro da colecção "Arte Nova" - Jarra N.º 4
    (A-21); a segunda peça parece-me ser o "Cinzeiro Sempre em pé" (A-5); a terceira é um Jarro (N.º 1, A-33); e finalmente a quarta peça da referida artista é o Jarro N.º 5 (A-44). Produzidas na FLS precisamente para "inovar" neste núcleo de produção, o da loiça decorativa. CP

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    1. Caro(a)CP,
      Muito obrigada pelo simpático e informativo comentário.
      Irei actualizar o post de acordo com os dados que fornece.
      No entanto, a peça que lhe que parece o "Cinzeiro Sempre em pé" (A-5), talvez não seja, pelo menos segundo o catálogo do MNAZ onde figura.
      Seja sempre bem-vindo(a).
      Saudações,
      CMP*

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    2. Cara CMP,
      sempre que for necessário estamos disponíveis para colaborar consigo, seja por esclarecimentos ou documentação técnica, visto que assim usufruimos todos desta partilha de informações e conhecimentos, no nosso caso particular, em torno do universo da produção da extinta FLS. E, porque também aprendemos (e muito!) com o seu blog. Muito obrigado. CP

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    3. Caro CP,
      eu é que agradeço a vossa imprescindível colaboração, à qual certamente recorrerei sempre que necessário.
      Obrigada,
      CMP*

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  4. Acrescentaria que a jarra A-21 surge não apenas na tabela de 1960(ao preço de 100$00), mas também na tabela de 1979 (ao preço de 187$00), sob o número 9408.
    A pedido, será então reproduzida, brevemente, a página onde surge este formato.
    Saudações!

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  5. Caro MAFLS,
    muito obrigada pela adenda.
    Junto a minha voz a esse pedido, já que gostaria bastante de ver o desenho.
    Na sua opinião, será a peça aqui reproduzida de 1960 ou de 79?
    Saudações,
    CMP*
    PS - Espero que o Arnaldo tenha recuperado o bom humor ;-)

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    1. Prezada CMP*:

      Atendendo às tonalidades do vidrado, ao craquelé da base e à inscrição por extenso, inclinar-me-ia mais para finais da década de 1950 ou década de 1960.

      Embora o mês de Março já esteja completamente programado, sempre poderei substituir um post para que a página solicitada surja as próximas duas semanas.

      É pena que não tenha conseguido uma imagem melhor da peça A-44. Será que alguém possui fotografia de melhor qualidade?... : D

      Saudações.

      (O Arnaldo continua amuado. Coisas dele... Diz que não lhe passa o amuo enquanto não tiver também direito ao zoo das Caldas...)

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    2. Caro MAFLS,
      Nada como uma opinião bem fundamentada,obrigada!
      Sem querer pôr em causa o seu alinhamento, realmente era bom fazer-se a ligação entre as duas publicações.
      Infelizmente as fotos deste post não são da minha responsabilidade, eu também gostaria de publicar uma imagem melhor da peça A-44, pode ser que alguém queira enviar uma.
      Saudações,
      CMP*
      (Com essa do "zoo da Caldas" deixou-me desnorteada de vez...)

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  6. Sairá então no dia 11, Domingo, ficando entre duas peças Aleluia e um prato de cozinha...
    Saudações!

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