O Bairro dos Olivais-Norte, planeado em 1959 pelo recém formado Gabinete Técnico da Habitação da Câmara Municipal de Lisboa, previa a residência de 8000 habitantes, constituindo-se como uma inovadora proposta urbanística no contexto do crescimento equilibrado da cidade.
Pondo em prática os princípios do urbanismo moderno enunciados pela Carta de Atenas, este bairro é especialmente fundamentado nas Unidades de Vizinhança, articulando os pólos habitacionais em torno da Escola Primária, elemento regulador do volume populacional.
Evitando o habitual desenho de rua, onde as fachadas se perfilam, os arquitectos desenvolveram edifícios em banda e torre, integrados em espaços verdes, alternando as duas tipologias de forma implantar as construções diagonalmente às Ruas General Silva Freire e Alferes Barrilaro Ruas.
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Vista aérea do Bairro dos Olivais-Norte, Lisboa. Rua General Silva Freire e Rua Alferes Barrilaro Ruas. © CMP |
Desenhados por
Nuno
Teotónio Pereira (n.1922) e António Pinto de Freitas (n.1925), os agregados de habitação social identificados na imagem abaixo, integram intervenções artísticas, fazendo jus às práticas desenvolvidas pelo atelier do arquitecto Teotónio Pereira, onde o convite à colaboração de artistas na criação de obras complementares aos projectos e neles integradas, era habitual.
Estas práticas, reveladoras de um pensamento arquitectónico verdadeiramente moderno, terão como testemunho mais conhecido o
Edifício das Águas Livres (1953-55), em Lisboa, da autoria de Nuno Teotónio Pereira e Bartolomeu Costa Cabral (n.1929) - 2º Prémio Nacional de Arquitectura da Fundação Calouste Gulbenkian
em 1961, onde colaboraram vários artistas, entre eles Almada Negreiros (1893-1960) e Jorge Vieira (1922-1998).
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Nuno T. Pereira e António P. de Freitas - habitação social no Bairro Olivais-Norte, Lisboa, 1959. © CMP |
Nos Olivais-Norte os conjuntos habitacionais dispostos em banda são compostos por quatro edifícios, articulando-se cada um deles com uma unidade externa destinada a arrumos e convívio. Esta tipologia repete-se seis vezes ao longo do bairro, revelando preocupações ideológicas e sociais típicas do modernismo.
Nestas unidades externas foram convidados a intervir seis artistas, segundo a legenda da imagem acima:
1 -
Maria Keil (n.1914), um conjunto de relevos cerâmicos.
2 - Fernando Conduto (n.1937), uma série de relevos em betão policromado.
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Fernando Conduto - relevo em betão, Bairro dos Olivais-Norte, Lisboa, 1959.
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3 - António Lino (1914-1996), um conjunto de painéis em mosaico.
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António Lino - mosaico, Bairro dos Olivais-Norte, Lisboa, 1959.
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4 - Rogério Ribeiro (1930-2008), uma série de desenhos incisos policromados.
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Rogério Ribeiro - desenho inciso, Bairro dos Olivais-Norte, Lisboa, 1959.
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5 - Lima de Freitas (1927-1998), um conjunto de painéis em azulejo.
6 - João Segurado (n.1920), um conjunto de painéis em
trencadís.
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Nuno T. Pereira e António P. de Freitas - habitação social no Bairro
Olivais-Norte, Lisboa, 1959. © CMP |
No contexto de um movimento de democratização da arte, valorizando o seu carácter público como forma de intervenção social de modo a contribuir directamente para a melhoria da qualidade de vida das populações, os vários artistas são convidados a desenvolver, cada um deles quatro peças, variações sobre o mesmo tema, a serem instaladas na parede de suporte à zona de convívio, composta por um banco corrido coberto por uma pala em betão.
Destas peças, referiremos apenas as que utilizam a tecnologia da cerâmica, começando pelos relevos da autoria de Maria Keil.
Dedicaremos ainda espaço de publicação aos painéis em
trencadís de João Segurado e aos painéis de azulejo de Lima de Freitas.
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Habitação social no Bairro
Olivais-Norte, Lisboa, 1959 - zona de arrecadações. © CMP |
Maria Keil, que trabalha durante o mesmo período na concepção dos
revestimentos azulejares para o
Metropolitano de Lisboa, desenvolve na Fábrica de Cerâmica
Viúva Lamego, um conjunto de relevos cerâmicos, compostos por peças individuais articuladas entre si.
Estes
elementos tridimensionais, configuram formas geométricas simples:
quadrados, rectângulos, círculos e hexágonos; tendo por orientação
segmentos de recta verticais e horizontais de escala irregular, incisos
no betão, responsáveis simultaneamente pela
dinâmica e pela coesão das composições.
As peças relevadas estão esmaltadas com
cores planas, tirando assim partido das sombras projectadas, como pode
observar-se em algumas imagens.
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Maria Keil - relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte, Lisboa, 1959. © CMP |
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Maria Keil - relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte, Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte, Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
© CMP |
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
© CMP |
A artista trabalhou paletas de cores individualizadas para cada unidade construtiva, promovendo assim uma rápida identificação dos espaços.
Dos dois exemplares que aqui apresentamos, os únicos ainda existentes, no primeiro são utilizados o verde, o laranja e o castanho ferrugem, e no segundo, o azul, o lilás e o amarelo, sempre conjugados com preto e branco.
A dispersão dos vários elementos integrantes da composição favorece claramente a sua integração no espaço arquitectónico, dando origem a um todo formalmente coerente e equilibrado, um objectivo nem sempre alcançado nas intervenções dos restantes artistas.
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Maria Keil - relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
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Maria Keil - detalhe de relevo cerâmico, Bairro dos Olivais-Norte,
Lisboa, 1959.
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Aparentemente estes relevos foram bastante danificados ao longo das décadas, tendo sido alvo de vários actos de vandalismo. Alguns elementos estão partidos ou em falta, revelando ainda resquícios de tinta de spray e outras agressões.
As imagens a baixo reproduzidas, referentes à unidade assinalada na vista aérea com a letra A, mostram como remodelações deficientemente conduzidas e sem a devida supervisão técnica, podem ser irremediavelmente lesivas para o património do século XX, muitas vezes incompreendido e como tal desprezado pelas populações.
Dos quatro relevos iniciais, já só existem dois, uma vez que em duas das unidades que foram "remodeladas", os relevos desapareceram, tendo sido deliberadamente removidos, como pode observar-se.
Não se sabe em que estado de conservação se encontravam estas peças, no entanto, a melhor opção dificilmente seria a sua remoção.
É urgente e fundamental que as autoridades camarárias exerçam as suas funções com maior eficiência e que as constantes alterações ao edificado urbano, sejam elas clandestinas, ou simplesmente não licenciadas, sejam penalizadas de forma rigorosa.
As finanças da autarquia sairão fortalecidas e a saúde da cidade beneficiada.
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Habitação social no Bairro
Olivais-Norte, Lisboa, 1959 - zona de convívio. © CMP |
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Habitação social no Bairro
Olivais-Norte, Lisboa, 1959 - zona de convívio, detalhe. © CMP |
Sublinho: "Irremediavelmente lesivas para o património do século XX, muitas vezes incompreendido e como tal desprezado pelas populações".
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