A fábrica Raul da Bernarda, em Alcobaça, diversificou a sua produção após a Segunda Guerra Mundial, absorvendo tendências internacionais que lhe permitiram fazer face ao mercado externo.
A nova produção combina peças decorativas e utilitárias de traço neo-rococó, ao gosto francês, com peças de cariz moderno, em menor número, baseadas sobretudo na produção italiana e alemã.
Exemplo desta última tendência é o jarro que podemos observar abaixo, em faiança vidrada a branco, com apontamentos a dourado. Tem o bojo em forma de tronco de cone invertido, revestido com um padrão colorido em decalcomania.
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Raul da Bernarda - Jarro, Anos 60. © CMP |
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Raul da Bernarda - Jarro, Anos 60. © CMP |
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Raul da Bernarda - Jarro, Anos 60. © CMP |
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Raul da Bernarda - Jarro, detalhe. © CMP |
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Raul da Bernarda - Jarro, detalhe. © CMP |
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Raul da Bernarda - Jarro, marca de fábrica. © CMP |
Este jarro mede 22 cm de altura e está marcado "RB ALCOBAÇA MADE IN PORTUGAL", o que indica ser uma peça para exportação. O número 573, diz respeito ao modelo, aparecendo em peças de formato semelhante mas com outros motivos decorativos.
O mesmo padrão foi também usado em caixas de formato cilíndrico. No primeiro caso, com 16,5 cm de altura, a tampa e a base são decoradas com um friso composto por estrias verticais a dourado. No segundo caso, de tamanho um pouco maior, o friso da tampa é a cheio contrastando com o da base, estriado.
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Raul da Bernarda - Caixa, Anos 60. © CMP |
O padrão aplicado nestas peças parece ter sido directamente influenciado por um outro desenvolvido pela fábrica alemã
Goebel, cerca de 1963. O que leva a crer que a produção da Raul da Bernarda será da segunda metade da década de 60, prolongando-se, provavelmente até inícios de 70.
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Goebel - base de espremedor de citrinos, 1963. Flickr |
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Goebel - marca de fábrica entre 1964 e 1972. eBay |
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Goebel - Caixa, saleiro e pimenteiro, 1963. eBay |
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Goebel - Saleiro e pimenteiro, detalhe. Flickr |
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Publicidade - Pottery Gazette, Novembro, 1963. © CMP |
Estes padrões, devem a sua concepção e modo de aplicação aos padrões
têxteis, o desenho é aplicado sobre a peça, preenchendo uma determinada
superfície, como se esta fosse revestida por um tecido cortado à medida,
sendo o padrão cortado em função do formato da peça, o que tradicionalmente
não acontecia, já que o desenho dos motivos decorativos se adaptava ao
espaço a ele destinado.
Neste caso, o padrão de forte
apelo gráfico, é composto por elementos relacionados com alimentação,
(frutas, utensílios de cozinha, garrafas, etc.) tratados de forma
sintética, fazendo uso de espessas linhas de contorno a negro,
combinadas com cores planas, primárias e secundárias, recuperando
soluções gráficas, experimentadas na primeira metade do século.
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Goebel - Conjunto de caixas, 1963. Flickr |
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Goebel - Conjunto com saleiro e pimenteiro, 1963. eBay |
Segundo a mesma lógica e usando a técnica da decalcomania, muitos outros padrões ou motivos decorativos isolados, foram profusamente utilizados em peças de produção corrente.
Os casos mais vulgares nas peças produzidas pela Raul da Bernarda e outras fábricas de Alcobaça, ainda durante a década de 70, é a aplicação de padrões
Chintz e
Paisley.
Estes padrões têxteis de origem indiana, difundidos na Europa a partir do século XVII, são retomados nos Anos 60, numa perspectiva de revivalismo Pop. São revistos, simplificados e aplicados em tecidos, plásticos, esmaltes e louça decorativa e utilitária.
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Padrões Chintz e Paisley aplicados em louça utilitária. © CMP |
A decalcomania estende-se ainda aos temas vindos da história da arte, explorando motivos Clássicos, Barrocos ou Rococó.
Assim, podemos encontrar o modelo de jarro 573, decorado com outros motivos. Entre os mais comuns e largamente difundidos, já que também foram aplicados em peças da mesma época, de gosto neo-rococó, estão as obras do pintor espanhol do século XVII, Bartolomé Murillo (1617-1682).
Conhecido pelas suas obras religiosas, este artista ficou para sempre associado às representações do quotidiano dos mais desfavorecidos, em especial crianças pedintes, no seguimento do movimento contra-reformista.
Estas imagens, retiradas do contexto da época, foram largamente reproduzidas e estampadas em objectos de grande consumo, transformando-se em ícones kitsch.
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Bartolomé Murillo - "Rapazes jogando dados", 1675. |
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Raul da Bernarda - Jarro, marca de fábrica. Leilões.net |
E eu que esperava imagens da obra do Roy Lichtenstein e do Fernand Leger e apenas encontro a tavolagem do Murillo... :(
ResponderEliminarCaro MAFLS,
ResponderEliminarantes de mais, seja bem aparecido!
Esperava e muito bem, mas por uma vez há que quebrar o padrão. Certamente não faltarão outras oportunidades para citar o Léger e o Lichtenstein.
Saudações,
CMP*