Durante a década de 50, a produção da fábrica de cerâmicas Aleluia, Aveiro, reclama para o contexto nacional os valores propostos pelo Modernismo a nível internacional.
Estes valores, baseados na elementaridade da geometria e do cromatismo, explorando as relações de interdependência entre forma e grafismo, procuram evitar o decorativismo típico da Arte Nova e de alguma produção Art Déco.
A jarra gomada modelo 706-A, com 19,6 cm de altura e 10 cm de largura, datada de c.1955, é um bom exemplo de um retorno a uma simplicidade estrutural própria das tendências Cubistas nas artes decorativas, onde os elementos gráficos pretos ou brancos aparecem combinados com cores planas, recuperando formas trabalhadas pelo designer checo Pavel Janak (1882–1956).
Estes valores, baseados na elementaridade da geometria e do cromatismo, explorando as relações de interdependência entre forma e grafismo, procuram evitar o decorativismo típico da Arte Nova e de alguma produção Art Déco.
A jarra gomada modelo 706-A, com 19,6 cm de altura e 10 cm de largura, datada de c.1955, é um bom exemplo de um retorno a uma simplicidade estrutural própria das tendências Cubistas nas artes decorativas, onde os elementos gráficos pretos ou brancos aparecem combinados com cores planas, recuperando formas trabalhadas pelo designer checo Pavel Janak (1882–1956).
Aleluia - jarra 706-A, c.1955. © AM-JMV |
Aleluia - jarra 706-A, c.1955. © AM-JMV |
Aleluia - jarra 706-A, c.1955. © AM-JMV |
Aleluia - jarra 706-A, c.1955, marca de fábrica. © AM-JMV |
O Cubismo Checo nasceu por volta de 1910, em Praga, quando um grupo de jovens artistas e designers avant-garde, revoltados contra a exuberância floral Art Nouveau, resolveu importar os princípios Cubistas, explorados na pintura por Braque (1882-1963) e Picasso (1881-1973), para a arquitectura, mobiliário, e objectos utilitários e decorativos.
O distintivo carácter angular das formas, ambicionando a libertação da "energia interna da matéria", segundo afirmavam os autores, é visível em todo o tipo de objectos, desde a cerâmica ao mobiliário, consumando-se em projectos de arquitectura onde todo o edifício se articula com o design de interiores, numa concepção de "obra de arte total", como se verifica na Casa da Virgem Negra, em Praga, actualmente o Museu do Cubismo Checo.
Embora de curta duração, este movimento artístico é entendido como uma das principais influências sobre as tendências modernistas emergentes durante a década de 1920.
O distintivo carácter angular das formas, ambicionando a libertação da "energia interna da matéria", segundo afirmavam os autores, é visível em todo o tipo de objectos, desde a cerâmica ao mobiliário, consumando-se em projectos de arquitectura onde todo o edifício se articula com o design de interiores, numa concepção de "obra de arte total", como se verifica na Casa da Virgem Negra, em Praga, actualmente o Museu do Cubismo Checo.
Embora de curta duração, este movimento artístico é entendido como uma das principais influências sobre as tendências modernistas emergentes durante a década de 1920.
Pavel Janak - jarras, reedição actual dos originais de 1911. Modernista |
O conjunto de jarras gomadas, acima reproduzido, é da autoria de Pavel Janak, principal teórico do Cubismo Checo, tendo sido produzido pela primeira vez pela Artěl, Praga, em 1911.
Tal como a jarra Aleluia 706-A, estas peças exploram o relevo dos gomos pela utilização de elementos gráficos contrastantes. Existiam em preto, branco e dourado com as medidas de 12 cm, 24 cm e 32 cm de altura, podendo ser combinadas entre si de modo a configurarem composições harmoniosas.
Janak foi arquitecto, urbanista e designer. Estudou em Viena com Otto Wagner (1841-1918) entre 1906 e 1908, tendo começado a sua carreira com Jan Kotera (1871-1923), um dos mais importantes arquitectos checos do século XX.
Em 1911 tornou-se a figura de proa do Cubismo Checo, criticando a arquitectura contemporânea em escritos, como o artigo "O Prisma e a Pirâmide", publicado no mesmo ano, um manifesto onde proclamava que apenas "através da violência e da disrupção de um plano anguloso entrecortado por linhas horizontais e verticais é possível animar a matéria inanimada criando estruturas plenas de energia dinâmica".
Pavel Janak - caixas, Artěl, Praga, 1911. |
Demasiado ocupado com teorias, Pavel Janak nunca chega a construir em larga escala, acabando por ficar mais conhecido pelas peças de cerâmica que desenhou para a Artěl, uma cooperativa fundada em 1908, segundo o modelo da Wiener Werkstätte, composta por um grupo de arquitectos e designers na vanguarda de um nacionalismo em crescimento.
Jan Kotera proclama que desde a viragem do século é premente a necessidade de "libertar Praga de Viena". Contrastando com a produção da Wiener Werkstätte, as peças da Artěl eram "mais duras e intransigentes, não se deixando escravizar pelo luxuoso mercado Vienense", como escreveu em 1913, o arquitecto Josef Chochol (1880-1956).
Pavel Janak - caixa 847-1, Artěl, Praga, 1911-20. eBay |
Pavel Janak - caixa 847-1, Artěl, Praga, 1911-20. eBay |
Pavel Janak - caixa 847-1, tampa, Artěl, Praga, 1911-20. eBay |
Pavel Janak - caixa 847-1, interior, Artěl, Praga, 1911-20. eBay |
Pavel Janak - caixa 847-1, marca de fábrica, Artěl, Praga, 1911-20. eBay |
A caixa acima reproduzida, modelo 847-1, com 11 cm de altura, é um original produzido pela Artel, entre 1911 e 1920, demonstrando na perfeição as ideias de Pavel Janak a respeito do desenho de peças em cerâmica: "Enquanto a arquitectura expressa plasticamente complexos encontros de forças em larga escala, o candelabro, a taça ou o jarro oferecem oportunidades para ensaiar situações dramáticas simples, acções e volumes que nos oferecem as condições ideais para pôr em prática as nossas noções cubistas da matéria e do volume da matéria".
O despojamento da cor, para que os planos cubistas sobressaiam através de jogos de luz e sombra, confere a estas peças uma actualidade surpreendente.
O trabalho de Janak foi uma influência maior para o estilo Art Déco, sendo o seu serviço de café preto e branco, um dos primeiros a utilizar o padrão zigzag no design moderno, e a sua caixa inspirada nas estruturas geométricas dos cristais, uma referência e um dos maiores símbolos do Cubismo Checo.
Pavel Janak - serviço de café, c.1912-19. Imagem retirada do livro Czech Cubism 1909–1925, edição Modernista & i3 CZ, 1991. |
CMP* agradece aos autores do blogue Moderna uma outra nem tanto, a cedência de imagens de peças das suas colecções.
Olá e parabéns pelo blog, que conheci por acaso hoje no blog da querida Maria Andrade.
ResponderEliminarA jarra Aleluia, assunto do post, é muito bonita, mas gostei em particular das caixas de Pavel Janak, bem como o serviço de café, que é lindo!
Seus posts são verdadeiras aulas, e por isso a partir de agora estarei acompanhando seu belo blog.
abraços
Fábio Carvalho
Porcelana Brasil
Rio de Janeiro - Brasil
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http://porcelanabrasil.blogspot.com/
http://www.porcelanabrasil.com.br
Olá Fábio, seja muito bem-vindo.
ResponderEliminarMuito obrigada pelo comentário.
Há muito acompanho o seu trabalho no porcelanabrasil.
Tenho também acompanhado as colaborações de artistas e designers contemporâneos com a Bordallo Pinheiro e estou muito curiosa em relação às novas peças, que tal está a correr o trabalho?
Saudações,
CMP*
Olá,
ResponderEliminarA minha experiência na Bordallo Pinheiro não poderia ter sido melhor. O acervo deixado por Rafael e seu filho é uma coisa impressionante, que me deixou assoberbado com a riqueza, variedade, expressividade, e criatividade.
Durantes os 10 dias em que passei lá, conheci pessoas maravilhosas (como em todos os meus dias em Portugal, amo essa terra e esta gente), fui extremanente bem recebido e orientado pelos profissionais da fábrica, e meu trabalho andou tão bem e tão rápido, que por fim criei não apenas uma peça, mas duas, e para coroar, fui convidado também a desenvolver uma peça de artista para a Porcelana Vista Alegre.
E de tudo o que já pude ver que foi criado pelos meus colegas artistas brasileiros, acho que quando as peças forem lançadas em outubro de 2012, o público terá boas surpresas.
Acho que por não sofrermos a tradição que Bordallo Pinheiro representa, os projetos estão saindo bastante ousados e irreverentes, com bons toques de ironia. Acho que o Bordallo Pinheiro aprovaria!
abraços
Fábio
Fico muito satisfeita por ter sido através do meu blogue que o Fábio Carvalho foi "apresentado" a dois excelentes blogues - o CMP e o MUONT - sobre cerâmica portuguesa.
ResponderEliminarEu também me delicio a percorrer estas páginas, onde encontro muitos objetos e ambientes que me foram familiares na infância e na adolescência.
Algumas peças são de excepcional qualidade e os textos sempre muito informativos e interessantes.
Vou continuar a perder-me por aqui...
Abraços
Fábio, fico muito satisfeita com as notícias que me dá. De facto, o espólio Bordallo Pinheiro é espantoso e acredito que tem ainda muito para explorar. Pena que ainda tenhamos que esperar quase um ano para vermos as novas peças. Paciência... ;-)
ResponderEliminarSaudações,
CMP*
Maria, obrigada pelos elogios e pela simpatia.
ResponderEliminarSempre que queira colaborar com peças ou painéis que considere pertinentes, é só usar a nossa morada de email (no topo da página).
Será sempre bem-vinda.
Saudações,
CMP*