Prato de parede Raul da Bernarda, marcado 616/26, datado do final da década de 50 início de 60, bastante próximo de outro anteriormente aqui publicado, ecoando a produção italiana do mesmo período.
Com 23 cm de diâmetro e furação no verso, para que possa ser pendurado na parede, este prato faz uso de esmaltes fortemente texturados.
Na figura, o vermelho rugoso é usado para realçar os lábios e o padrão de Arlequim da vestimenta, no fundo, a patine sobre o vidrado acentua as qualidades da textura.
Na figura, o vermelho rugoso é usado para realçar os lábios e o padrão de Arlequim da vestimenta, no fundo, a patine sobre o vidrado acentua as qualidades da textura.
Raul da Bernarda - prato de parede 616/26. © CMP |
Raul da Bernarda - prato de parede 616/26, detalhe. © CMP |
Decorado com desenho esgrafitado de busto feminino, reminiscente dos cartoons, ilustrações e banda-desenhada da mesma época, esta ilustração aproxima-se das figuras criadas pelo artista e designer norte-americano Rolland "Rolly" Crump (n.1930), para uma série de cartazes concebidos em 1960, para a Esoteric Poster Company de Seattle, dirigida por Howard Morseburg (n.1924).
O trabalho de Rolly Crump para esta empresa pioneira na edição de cartazes, parodia vários temas, entre eles a Beat Generation e a suposta predilecção dos Beatniks por drogas.
Crump é mais conhecido pelo seu trabalho para a Disney, especialmente após ter ingressado na Walt Disney Imagineering, em 1959, e ter colaborado activamente na constante renovação da Disneyland, o primeiro parque temático, inaugurado em 1955 na Califórnia.
No entanto, nestes cartazes, que desenha até 1964, usa um traço mais audaz acentuando os conteúdos satírico e erótico, de um modo impossível de desenvolver no contexto da Disney.
Rolly Crump - Delilah in the Bath, 1961. MID-CENTURIA |
Rolly Crump - Delilah in the Bath, detalhe, 1961. MID-CENTURIA |
Rolly Crump - Sitting Pretty, 1961. MID-CENTURIA |
Rolly Crump - Sitting Pretty, detalhe, 1961. MID-CENTURIA |
No detalhe abaixo reproduzido, podem observar-se as qualidades e texturas dos vidrados, bem como o padrão de Arlequim.
Este tipo de padrão foi largamente explorado durante o Modernismo, tanto na pintura como nas artes decorativas.
Arlequins e restantes personagens da commedia dell'arte povoam a pintura de Picasso (1881-1973) ou de Alamada Negreiros (1893-1970), citando apenas dois nomes maiores do contexto nacional e internacional.
O padrão de quadriláteros coloridos, com toda a sua carga significante, invade as artes decorativas, desde as aventuras geométricas do chamado Primeiro Modernismo à Art Déco, sofrendo, no pós Guerra, interpretações de maior liberdade expressiva.
Raul da Bernarda - prato de parede 616/26, detalhe. © CMP |
A linha Arlecchino, da qual se encontram reproduzidos abaixo dois exemplares, constitui uma referência na adaptação do padrão à cerâmica.
Desenhada por Nino Strada (1904-1968), entre 1950 e 1955 e produzida pela Societa Anonima Maioliche Deruta, esta série de objectos explora uma riqueza de cromatismo e composição apenas possível pela maturidade do seu autor.
Strada foi um dos artistas italianos mais reconhecidos e premiados da primeira metade do século XX, tendo-lhe sido atribuídas as medalhas de ouro da Exposição de Milão em 1930 e 1933. Ganhou também várias outras competições em Paris, Veneza e Faenza.
No começo dos Anos 60 inicia ainda a actividade de professor no Instituto Profissional de Cerâmica em Milão, que, apesar da sua curta duração, deixa importantes frutos na produção cerâmica Italiana.
Nino Strada - Vasos da série Arlecchino, Deruta, 1950 a 1955. © Paul Stapleton |
Marca do jarro do lado esquerdo. © Paul Stapleton |
Marca de fábrica do prato 616/26. © CMP |
O prato de parede 608/26, reproduzido abaixo, difere do 616/26 sobretudo pela sua forma ovóide. Igualmente perfurado no verso, mede 23 cm por 19,5 cm, apresentando o mesmo tipo de vidrados e cores.
Embora a decoração, presumivelmente identificada pelo número 26, seja a mesma, neste exemplar não aparece o padrão de Arlequim, utilizado também noutras peças produzidas pela Raul da Bernarda durante o mesmo período.
Raul da Bernarda - prato de parede 608/26. Leilões.net |
O mesmo vidrado rugoso aplicado em detalhes nos pratos acima reproduzidos é típico da produção da Raul da Bernarda das décadas de 50 e 60, podendo ser encontrado em várias cores, revestindo objectos de maiores dimensões como jarras, floreiras, pratos e travessas, muitas vezes conjugado com branco ou apontamentos dourados.
Um excelente exemplar é a jarra 1150/15, abaixo reproduzida, onde a dimensão escultórica é acentuada pelas características matéricas do vidrado.
Raul da Bernarda - jarra 1150/15. © MAFLS |
Raul da Bernarda - jarra 1150/15, marca de fábrica.© MAFLS |
CMP* agradece ao artista plástico Paul Stapleton e ao autor do blogue Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém, a cedência de imagens.
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