A Exposição Universal de Bruxelas decorreu no parque de Lacken entre 17 de Abril e 19 de Outubro de 1958. Na actualidade, as marcas deixadas na paisagem são ainda bastante visíveis, especialmente pela presença do
Atomium, que foi adquirindo o estatuto de ícone da cidade.
Com comissariado geral do Conde de Penha Garcia, tendo como comissários adjuntos Jorge Segurado e Mário Neves, a representação portuguesa nesta exposição era composta por um conjunto arquitectónico, da autoria de Pedro Cid (1925-1983), situado sobre um amplo relvado, enquadrado por uma colina densamente arborizada.
Os edifícios ocupavam uma área de 7100 metros quadrados, dos quais 2870 correspondiam às áreas do pavilhão propriamente dito e do anexo, onde funcionavam o restaurante, o Bar do Vinho do Porto, a loja de artesanato e produtos regionais e a esplanada.
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Capa do folheto informativo. Foto de António Leal - ephemera |
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Interior do folheto, onde pode ver-se a localização do pavilhão e sua articulação com o anexo. Foto de António Leal - ephemera
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Pavilhão de Portugal, pode ver-se a utilização de uma grelha cerâmica sobre a fachada lateral. |
Pedro Cid, considerado uma das referências fundamentais da arquitectura modernista em Portugal, foi o vencedor do concurso para o Pavilhão Português. O arquitecto, que havia já colaborado em vários projectos, como o conjunto habitacional da Av. dos Estados Unidos da América em Lisboa (Prémio Municipal, 1956), foi posteriormente co-autor do projecto da sede da Fundação Gulbenkian (Prémio Valmor, 1975).
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Vista nocturna do Pavilhão de Portugal, a grelha cerâmica filtra a luz que emana do interior através das enormes fachadas envidraçadas. Foto do Estúdio Horácio Novais (1930-1980) - Biblioteca Gulbenkian Flickr |
Os dois corpos constituintes do pavilhão português integram a visão modernista dominante em toda a Exposição, sem deixarem de utilizar elementos típicos da arquitectura portuguesa, como os azulejos e as grelhas cerâmicas ou de ferro forjado.
Do denominado sector VI, o anexo, cujo desenho de interiores era da responsabilidade de Eduardo Anahory (1917-1998) e José Rocha (1907-1982), fazia parte o Bar de Vinho do Porto, onde estavam integrados uma grelha de ferro forjado do artesão Esteves e um painel de azulejos da autoria da pintora
Menez (1926-1995). Este painel, datado de 1957, é contemporâneo do conjunto azulejar da pastelaria Vá-Vá, em Lisboa, também com assinatura da autora e datado de 1958, apresentando, no entanto, características formais bastante diversas.
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Entrada para o Bar de Vinho do Porto, sector VI, o com Atomium em pano de fundo. Foto do Estúdio Horácio Novais (1930-1980) - Biblioteca Gulbenkian Flickr |
No interior do pavilhão principal, mais especificamente no sector IV, dedicado às
Aspirações do Povo Português, cuja concepção ficou a cargo de Sebastião Rodrigues (1929-1997) e Manuel Rodrigues (1924-1965), estão presentes obras do escultor Jorge Vieira (1922-1998) e do pintor Júlio Resende (n.1917), bem como relevos cerâmicos de
Querubim Lapa (n.1925).
Nas peças apresentadas, provavelmente realizadas no seu atelier na
Viúva Lamego (fundada em 1849), o mestre ceramista trabalha a iconografia solar, já desenvolvida por si noutros trabalhos da mesma época e seguidamente também explorada nos murais da Pastelaria Mexicana (1961-62) em Lisboa.
De notar o convite à integração na representação portuguesa de artistas não afectos ao regime, como Querubim Lapa, especialmente ligado ao movimento neo-realista.
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Relevo cerâmico de Querubim Lapa no sector IV do Pavilhão de Portugal. Foto do Estúdio Horácio Novais (1930-1980) - Biblioteca Gulbenkian Flickr |
Capa da revista literária Notícias do Bloqueio, nº5, Dezembro de 1958, da autoria de Querubim Lapa.
A cerâmica é também utilizada em obras escultóricas de maior volume e conteúdo épico, como é o caso da peça da autoria do escultor
António Amaral Paiva (1926-1987), hoje desaparecida.
Situada no sector III, dedicado às
Riquezas Materiais da Nação, com desenho expositivo de Tomaz de Mello (1906-1990) e Marcello de Morais, a estrutura totémica que pretendia representar simbolicamente a força do
trabalho, obteve o Grande Prémio Individual de Escultura da Exposição.
Ainda no sector III, no espaço dedicado à indústria, é concebido um expositor que congrega a produção cerâmica, o vidro e a ourivesaria. Nesta estrutura, as vitrinas contendo os objectos, são pontuadas por imagens fotográficas de formas em revolução, desde a roda de oleiro a representações abstractas sugestivas de movimento e dinâmica, sublinhando a ideia da transformação da matéria informe em objecto.
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Expositor dedicado às indústrias do vidro, cerâmica e ourivesaria. Foto do Estúdio Horácio Novais (1930-1980) - Biblioteca Gulbenkian Flickr |
Na Expo58 a fábrica de porcelanas
Vista Alegre (fundada em 1824) conquista o Grande Prémio da Exposição, apresentando peças com formas livres de cariz modernista, divergindo claramente da sua produção clássica, como pode ver-se na página de publicidade publicada na revista
Panorama, onde usa o
slogan: "Sempre à frente!"
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Anúncio na revista Panorama, nº11, III Série, Setembro de 1958. © CMP |
A
SECLA, que normalmente apresentava, nas exposições internacionais, peças de autor produzidas pelos artistas do Estúdio, viu a sua política reconhecida com a Medalha de Prata da Expo58.
Em termos económicos estes prémios não produziram efeitos imediatos, mas contribuíram para consolidar o prestígio internacional das marcas, que a longo prazo alargaram a sua carteira de exportações.
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Capa do catálogo da SECLA para a Exposição Universal de Bruxelas, 1958. Publicada no catálogo Estúdio SECLA - Uma Renovação na Cerâmica Portuguesa, edição do Museu Nacional do Azulejo, 1999. |