domingo, 8 de novembro de 2015

Cerâmica na exposição Desejo, Tensão, Transição – Percursos do Design Português - EXD'15

Em 2015, a EXPERIMENTADESIGN reconfigura-se, estendendo-se ao norte do país, contando com exposições no Porto e em Matosinhos. 
A 9ª edição da Bienal decorrerá entre 12 de Novembro e 20 de Dezembro, sob o tema As Far As the Mind Can See, centrando-se nas capacidades inventivas, responsáveis pela visão prospectiva promotora da criação.

A exposição Desejo, Tensão, Transição – Percursos do Design Português, organizada pela Câmara Municipal de MatosinhosEXD’15 e ESAD IDEA — Investigação em Design e Arte, com curadoria geral de José Bártolo, é considerada a mais ambiciosa da EXD’15, tanto pela escala e abrangência, como pela duração. Estará patente na Galeria Nave, em Matosinhos, de 12 de Novembro de 2015 a 12 de Março de 2016. 


[Design R2]


Desejo, Tensão, Transição – Percursos do Design Português, "propõe uma perspetiva singular do design português, da produção contemporânea em diversas áreas (do design de produto ao editorial, do design multimédia ao mobiliário) e da relação entre a contemporaneidade e a história.", estando organizada em 16 módulos expositivos, cada um com curadoria própria.

MÓDULOS EXPOSITIVOS:

BRINCADEIRA COM FUNÇÃO - Parte de uma definição de design dada por Sebastião Rodrigues para reunir cerca de 20 projetos de produção contemporânea.
José Bártolo

GEOMETRIA DAS CORES - A partir do arquivo da Fábrica de Cerâmica de Sacavém.
José Bártolo

POLÍTICA DO ESPÍRITO - Sobre a ligação entre design e política, no período do Estado Novo, entre 1933 e 1950.
José Bártolo

SENTAR - Objectos que respondem a esta função, privilegiando a produção contemporânea mas sugerindo diálogos com a história.
José Bártolo

OLAIO - Seleção de desenhos de ambientes e peças de mobiliário desenvolvidas para produção da Fábrica Olaio.
José Bártolo

ESCOLA DO PORTO, ENTRE ARQUITETURA E DESIGN - Conjunto de objetos de design projetados por arquitetos de várias gerações formados na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
Maria Milano

DESENHAR O MODERNISMO - Conjunto de material de arquivo – estudos, não publicados — de António Soares, figura maior da ilustração e do design português da primeira metade do século XX.
José Bártolo

USAR E NÃO DEITAR FORA - Aproximações à produção cerâmica em Portugal, da segunda metade do século XX ao século XXI.
Rita Gomes Ferrão

VISTA ALEGRE - 40 peças de produção contemporânea.
Alda Tomás

EDIÇÃO LIMITADA - As fronteiras disciplinares do design a partir da reunião de projetos de peças únicas ou de série limitada.
José Bártolo

SOBRE(A)POSIÇÃO - 40 cartazes para clientes culturais.
Sérgio Alves

SYNESTHESIA - As relações entre imagem e som, a partir do universo da edição independente contemporânea.
Inês Nepomuceno

WIDE® - SYMBOLS & LOGOS PORTUGAL - As marcas em Portugal nos últimos 10 anos, através daquilo que é considerado a essência da sua representação das marcas - o logo.
Gonçalo Cabral

TIPOS - Panorama atual do design de tipos de letra em Portugal.
Rui Abreu

A ALEGRIA É A COISA MAIS SÉRIA DA VIDA - A história do desenho de humor desde o final do século XIX aos nossos dias.
Jorge Silva

BEST PORTUGUESE BOOK DESIGNS - Seleção de livros editados entre 2010 e 2013 no âmbito do projeto BPBD, tendo por objetivo a documentação, promoção e valorização de livros concebidos, desenhados e produzidos em Portugal.
João Martins, João Santos, João Simões, João Sousa, Marta Veludo, Ricardo Leite



[Design R2]


O design cerâmico estará representado em vários módulos expositivos, graças às opções curatoriais de José Bártolo, reveladoras de uma visão ampla e ecléctica do modo como o desenho de objectos foi abordado ao longo da história recente.

No módulo USAR E NÃO DEITAR FORA, da responsabilidade da editora desta página, pela primeira vez a EXD dedicará espaço expositivo à produção cerâmica portuguesa da segunda metade do século XX.
Procurou-se, através de um número restrito de peças, possibilitar várias aproximações à produção em série, industrial ou de autor, enfatizando as relações entre passado, presente e futuro.

Estarão presentes peças produzidas por várias fábricas. A destacar: Aleluia, SECLA, SPAL, Sacavém, Sado Internacional, Raul da Bernarda, Campos & Filhos, Constância, São Bernardo, Vista Alegre, Molde e Matcerâmica. 






Estará representado um vasto conjunto de autores, abrangendo um largo arco temporal e geracional: António Pedro (1909-1966); Maria Helena Matos (n.1924); Carlos Vizeu (1925-2012); Daciano da Costa (1930-2005); Mirja Toivola (n.1933); Maria de Lourdes Castro (n.1934); Eduardo Afonso Dias (n.1938); Manuel da Bernarda (n.1941); José Barros Gomes (n.1944); Salette Brandão (n.1952); Raul Cunca; Fernando Brízio (n.1968); Vítor Reis (n.1974); Pedrita - Rita João (n.1978) e Pedro Ferreira (n.1978); João Abreu Valente; Raquel Castro (n.1980); Gonçalo Campos (n.1986).







USAR E NÃO DEITAR FORA

No contexto português, a reformulação dos processos industriais após a II Guerra Mundial conduz à gradual introdução do design industrial e à criação de gabinetes de design no seio das unidades fabris. As técnicas da olaria tradicional foram perpetuadas na criação de novos modelos e apropriadas pelos vários autores, ao longo das décadas seguintes. No advento do século XXI, com a falência da grande indústria, assiste-se ao questionar dos processos fabris e à afirmação da pequena produção de carácter autoral. A necessidade de uma busca identitária, reflecte-se na reutilização de materiais autóctones ou nas práticas e linguagens tradicionais, reconfigurando-as segundo uma gramática contemporânea. O uso de objectos ancestrais será sempre recorrente, associado ou não a usos locais. À sua repetição regular soma-se uma constante renovação, através de novas leituras. Sublinhando ou desafiando a memória.



Mais informações em:
http://www.esad.pt/pt/feeds/desejo-tensao-transicao
http://www.experimentadesign.pt/2015/pt/index.html


Um agradecimento a todos os que possibilitaram a concretização deste projecto, em especial aos coleccionadores, empresas e designers, envolvidos.




domingo, 27 de setembro de 2015

Querubim Lapa | Primeira Obra cerâmica 1954-1974



Galeria OBJECTISMO, inauguração a 2 de Outubro, pelas 18h.
Até 28 de Novembro 2015.
Terça a Sábado das 11h00 às 19h00.
Rua D. Pedro V, 55, Lisboa.






A exposição QUERUBIM LAPA | Primeira Obra cerâmica, 1954-1974, produzida pela galeria Objectismo, com curadoria de Rita Gomes Ferrão, propõe uma análise centrada nos primeiros anos de produção de um artista cuja obra constitui a referência maior da cerâmica de autor, do século XX em Portugal.



Querubim Lapa - Canjirão antropomórfico, faiança rodada, relevada e policromada, 1956. © CMP



Querubim Lapa - Vaso antropomórfico, faiança rodada, relevada e policromada, 1956. © CMP



Especialmente focada nas experiências iniciais produzidas na Fábrica da Viúva Lamego, esta mostra reúne um núcleo de objectos em que o autor se aventura na reinvenção da cerâmica utilitária e decorativa do passado, dos Toby Jugs a Rafael Bordallo Pinheiro, passando pela olaria popular portuguesa. Colocando esta produção em diálogo com intervenções em arquitectura, placas decorativas e outros objectos de datação posterior, a exposição procura clarificar a genealogia da obra cerâmica de Querubim Lapa (n.1925), sublinhando a sua diversidade.



Fachada da loja Rampa, aro da porta da autoria de Querubim Lapa, 1956. Projecto de Francisco da Conceição Silva, 1955. Fotografia Estúdio Novais, arquivo do Atelier Conceição Silva.



Evocando a loja Rampa, projectada em 1956, por Francisco da Conceição Silva (1922-1982), lugar de excepção dedicado à comercialização de objectos utilitários e de autor, com qualidades e acabamentos de produção manual, a galeria Objectismo mostra um corpo de trabalho especialmente realizado por Querubim Lapa para aquele espaço em cuja arquitectura também colaborou, concebendo a moldura da porta revestida com placas cerâmicas, a sua primeira intervenção estrutural em arquitectura. Esta moldura, desaparecida desde 1980, ano de encerramento da Rampa, será pela primeira vez mostrada ao público, após trabalhos de restauro, sendo assim recuperado um elemento fundamental da história das artes decorativas e do design, em Portugal. 




Querubim Lapa - moldura da porta da loja Rampa, 1956. Projecto de Francisco da Conceição Silva, 1955. Fotografia de José Manuel Fernandes (arquitecto).



Querubim Lapa, conclui o curso da Escola António Arroio em 1946, licenciando-se em Escultura e posteriormente em Pintura, pela Escola de Belas-Artes de Lisboa. A sua carreira artística desenvolve-se multidisciplinarmente, explorando inúmeras tecnologias: a escultura, a gravura, os esmaltes, a tapeçaria, o desenho e em especial a pintura. Dedica-se à cerâmica a partir de 1954, ano em que se estabelece na Fábrica da Viúva Lamego, com atelier próprio. A sua obra afirma-se como um dos mais sólidos valores no contexto das artes decorativas em Portugal, especialmente pela integrada articulação com a arquitectura. A singularidade da obra de Querubim Lapa assenta no modo como se complementam os domínios disciplinares da sua formação, escultura e pintura concorrem basilarmente para a qualidade plástica da modelação e o domínio das cores e dos esmaltes.



Querubim Lapa - Base de candeeiro zoomórfica, faiança rodada, relevada e policromada, 1959. © CMP



Querubim Lapa - Púcara, pasta vermelha rodada por Rogério Cardoso, pintada com engobes, c.1965-69. © CMP



Na celebração dos seus 90 anos de idade, a Objectismo presta homenagem a Querubim Lapa, contribuindo para melhor dar a conhecer a génese de uma obra fundamental, através da publicação do livro com o mesmo nome, QUERUBIM LAPA | Primeira Obra cerâmica, 1954-1974, da autoria de Rita Gomes Ferrão, investigadora em História da Arte Contemporânea e responsável por esta página de divulgação (Cerâmica Modernista em Portugal*). Este será o segundo volume da série dedicada à cerâmica portuguesa do século XX, confirmando a aposta da galeria no estudo e divulgação desta disciplina artística.




Querubim Lapa: Primeira Obra cerâmica 1954-1974, Rita Gomes Ferrão, Lisboa, Objectismo, 2015.
ISBN 978-989-20-5897-9



Querubim Lapa, Fábrica da Viúva Lamego, c.1956-60. © CMP



Querubim Lapa - Placa de suspensão “Mulher caracol”, faiança policromada, c.1970-75.  © CMP 








segunda-feira, 1 de junho de 2015

Painéis da Casa da Sorte, Lisboa - Querubim Lapa

A Casa da Sorte, situada na confluência entre a Rua Ivens e a Rua Garret, no coração do Chiado, em Lisboa, consubstancia um dos mais completos e integrados projectos conjuntos, realizados por um arquitecto e um artista, no século XX, em Portugal. 
Resultante da colaboração do arquitecto Francisco Conceição Silva (1922-1982) com o ceramista Querubim Lapa (n.1925), este estabelecimento comercial está actualmente desocupado e prestes a ser reconvertido. 
Urge, uma vez mais, chamar à atenção para a sua importância no contexto da história da arte e da arquitectura portuguesas, pelo seu carácter único e excepcional. 
Defendendo a protecção deste edifício, em que exterior e interior constituem um todo, uno e indissociável, fazemos votos de que seja devidamente conservado e celebrado pelos seus novos proprietários.



Querubim Lapa - fachada da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - fachada da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963. Fotografia de Garcia Nunes, 1966  AML




A Casa da Sorte do Chiado, projectada em 1962 e inaugurada no ano seguinte, representa o culminar da colaboração entre artista e arquitecto, que vinha a ser desenvolvida e aprimorada desde 1955, com a participação de Querubim Lapa no projecto da loja Rampa, situada no Largo Rafael Bordalo Pinheiro e posteriormente destruída.
A fachada da Rampa, um corajoso rasgo de modernidade, era constituída por um plano envidraçado deixando ver todo o interior da loja, apenas seccionado pelo pórtico concebido pelo ceramista, um aro em betão revestido por placas cerâmicas policromadas que enquadrava uma porta igualmente em vidro, dando continuidade à restante fachada.
Querubim Lapa, cujo primeiro trabalho para arquitectura fora o desenho do revestimento azulejar de padrão para o Centro Comercial do Restelo, a convite do seu autor, o arquitecto Raul Chorão Ramalho (1914-2002), terá no pórtico da Rampa a sua primeira intervenção estrutural num projecto arquitectónico. Já que Conceição Silva pensará a fachada em função do pórtico, tal como este é concebido em função da sua integração na fachada.
Obra maior, a maturidade atingida na Casa da Sorte só é possível após um vasto conjunto de experiências, entre as quais podemos destacar os painéis relevados para os pavilhões portugueses no Comptoir Suisse; na Exposição Universal de Bruxelas e o grande mural da pastelaria Mexicana (actual motivo de preocupação). 



Querubim Lapa - pórtico da loja Rampa, Viúva Lamego, 1955. Imagem publicada na revista Atrium, nº1, 1959.



A instituição comercial Casa da Sorte foi fundada em Braga, em 1933, por António Augusto Nogueira da Silva (1901-1976), com a missão de desenvolver e expandir a Lotaria Nacional, transformando-se a longo prazo no maior requisitante oficial da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. 
A empresa cresceu rapidamente, abrindo lojas no Porto, Lisboa e Coimbra, em 1938, 1940 e 1948, respectivamente. Seguidamente expandiu-se para as províncias ultramarinas de Angola e Moçambique, com vários novos estabelecimentos, entre 1952 e 1970.
A primeira loja em Lisboa, inaugurada na Praça D. Pedro IV, em 1940, contém uma representação tridimensional de grande escala da Rainha D. Leonor, cerâmica da autoria de Jorge Barradas (1894-1971). No entanto, esta é uma peça independente, pensada como uma homenagem à fundadora das Misericórdias e acrescentada posteriormente, já na década de 60, sem relação directa com o projecto arquitectónico. Nogueira da Silva, apreciador de cerâmica, é responsável por várias encomendas de monta a Jorge Barradas, destinadas à sua habitação em Braga, actual Museu Nogueira da Silva, onde ainda se encontram expostas.
Assim, seria Barradas o natural escolhido para trabalhar no projecto do Chiado, tendo sido ele o responsável pela indicação do jovem Querubim Lapa, seu companheiro de trabalho na fábrica Viúva Lamego, onde ambos tinham ateliers individuais.




Querubim Lapa - fachada da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP


Com o projecto de Conceição Silva, a cerâmica irá alcançar um peso determinante na concepção do espaço. Na loja do Chiado, arquitecto e artista trabalham conjuntamente na criação de um objecto cuja orgânica assenta na expressão plástica dada pelo revestimento das paredes. Um espaço de pequenas dimensões, onde a fachada, sóbria de claros azuis e brancos, perfeitamente integrada num contexto de construção Pombalina, funciona em continuidade com o interior, através de uma suave transição cromática, enquadrando uma surpresa dominada por uma paleta de cores quentes e formas exuberantes. 
Na Casa da Sorte do Chiado, Querubim Lapa utiliza placas cerâmicas de grande formato em alternativa ao azulejo convencional. Numa sensível intervenção, suficientemente conservadora no exterior, de modo a evitar o conflito com a envolvente, propõe uma leitura moderna da paleta de cores herdada da azulejaria Pombalina, explorando as texturas e os vidrados em toda a superfície dos revestimentos exterior e interior.
Segundo explicações dadas pelo artista, a dimensão das placas cerâmicas terá sido a maior possível, 20 x 30 cm, respeitando as condicionantes de execução existentes na fábrica de cerâmica Viúva Lamego. O desenho do espaço foi concebido pelo arquitecto em função destas dimensões, tomadas como módulo no sentido clássico do termo, unidade de medida para a concepção do espaço. Não estamos portanto perante uma obra de fachada, pelo contrário, a articulação entre interior e exterior é determinante no entendimento do espaço, concebido como obra de arte total.



Querubim Lapa - fachada da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhe da fachada da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - fachada da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhe da fachada da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhe da fachada da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP


A temática tratada na figuração desenvolvida nos revestimentos cerâmicos, está centrada em referências ao jogo, segundo uma leitura aberta e universal da ideia de destino, sorte ou azar. Os números, o pentagrama ou os signos zodiacais, são elementos facilmente identificáveis, tanto no exterior como no interior. 


Querubim Lapa - detalhe da fachada da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhe da fachada da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhe do revestimento do interior da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP


Querubim Lapa - detalhe do revestimento do interior da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - revestimento do interior da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - painel com espelhos, interior da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhe do revestimento do interior da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhe do revestimento do interior da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhe do revestimento, com espelho, interior da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhe do revestimento do interior da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhe do revestimento do interior da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhe do revestimento do interior da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhe do revestimento do interior da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Atelier Conceição Silva - detalhe dos puxadores de porta, Casa da Sorte, 1963.  © CMP


A Casa da Sorte do Chiado, contém também a primeira experiência em cobre esmaltado realizada por Querubim Lapa, um painel executado nas oficinas da Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde o artista leccionava.
Seguindo a temática tratada nos revestimentos das paredes, o número como alegoria do destino, este friso decorativo está suspenso na parede por de trás do balcão, ao nível do olhar dos espectadores que dele se aproximem.

A técnica da esmaltagem sobre placas de cobre, sofre nesta época uma renovação paralela à acontecida na cerâmica de autor, sendo particularmente utilizada em pormenores decorativos em arquitectura, mobiliário e objectos de menor escala. Um dos artistas que mais se destacou no seu uso foi Luís Ralha (1935-2008), autor de frisos decorativos, puxadores de portas e também de pequenos objectos que pontuavam os interiores modernos. A ele se devem os puxadores das portas do Hotel do Mar, 1963, ou as placas esmaltadas embutidas no mobiliário desenhado por Daciano da Costa (1930-2005) para a Reitoria da Universidade de Lisboa, em 1961.

Os esmaltes de Querubim Lapa para a Casa da Sorte, destacam-se pela densidade das cores e solidez das formas, constituindo um contraponto à fluidez e transparência cromática por si obtidas nos revestimentos das paredes. Esta intensidade de azuis ultramarinos e vermelhos estará, por sua vez, em perfeita consonância com os painéis em madeira de tonalidades quentes que revestem o balcão e a parede de fundo.



Querubim Lapa - painel em cobre esmaltado, Casa da Sorte, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - detalhes do painel em cobre esmaltado, Casa da Sorte, 1963.  © CMP



Como afirma Rui Afonso Santos em "Querubim Lapa | Cerâmicas", Ed. Inapa, 2001: 
"Ao seu termo, a Casa da Sorte resultou num projecto notável de arquitectura e decoração, com perfeita unidade e integração plástica, ainda hoje intacta e felizmente preservada."
Esperemos que assim continue por muitos anos, a bem da conservação do património arquitectónico e artístico do século XX, em Portugal.





Nota: As fotografias que ilustram esta publicação foram obtidas em 2011, com a Casa da Sorte aberta ao público e em plena laboração. 
Abaixo podem ver-se imagens que ilustram o seu estado actual.



Querubim Lapa - fachada da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP



Querubim Lapa - fachada da Casa da Sorte, Viúva Lamego, 1963.  © CMP