Em 1959, a cerâmica moderna portuguesa é difundida através de duas importantes exposições, a
Exposition International de Ceramique Contemporaine, no
Musée des Beaux-Arts, em Ostende na Bégica e a
The Seventh International Exhibition, realizada no
The Kiln Club of Washington, em Washington DC, nos EUA.
Estas mostras reúnem um conjunto notável de ceramistas, desde o pioneiro
Jorge Barradas (1894-1971) às jovens
Cecília de Sousa (n.1937),
Maria de Lourdes Castro (n.1934) e
Maria Manuela Madureira (n.1930).
As representações internacionais, regra geral organizadas pelo
Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo, mais conhecido por SNI, órgão encarregado de levar a cabo as políticas culturais do regime, eram divulgadas na imprensa, em especial na
Panorama: Revista Portuguesa de Arte e Turismo, publicação oficial deste órgão educacional e propagandístico.
Assim, o nº16/III série, de 1959, da revista Panorama, à época dirigida por Ramiro Valadão, noticia o evento, explicando que a cerâmica, "Arte entre nós bem mais jovem e circunscrita do que a pintura e a escultura, sofre o primeiro impulso, para a nobilitar, com as procuras de Jorge Barradas, concretizadas brilhantemente nas exposições de 1945 e 1948.
De então para cá - e o que são pouco mais de dez anos para construir de novo uma arte abastardada? - os artistas trabalham, procuram: e de vulto é esse trabalho e procura; tanto que permite sem vergonha aparecer, e provoca, com honra e orgulho, o convite para se fazerem representar, os artistas e Portugal nas mais importantes exposições.
À obra de Fernando Abranches, Cecília Alves de Sousa, Jorge Barradas, Manuel Cargaleiro, Maria de Lourdes Castro, João Fragoso, M. Manuela Madureira, José Sanches e Hansi Stäel se deve, com muitos outros, este recuperar tempo perdido, e a posição adquirida pela cerâmica de arte portuguesa nos certames internacionais.
Artistas portugueses - ceramistas, escultores e pintores - que são, ao fim ao cabo, embaixadores de Portugal e da sua cultura: embaixadores e testemunhos."
Neste artigo, não assinado, fica clara a necessidade de recuperar o tempo perdido no que à cerâmica diz respeito, reflectindo a falta de investimento criativo nesta tecnologia artística, em Portugal, durante o período entre as Guerras.
Publicamos abaixo, as imagens que ilustram a referida notícia, com as legendas tal como aparecem na revista Panorama.
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Manuel Cargaleiro - jarra. © CMP |
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João Fragoso - jarra. © CMP |
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Fernando Abranches - A Nossa Mãe. © CMP |
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Jorge Barradas - Senhora e Menino, 1957. © CMP |
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Maria Manuela Madureira - Sofisma, 1959. © CMP |
De modo a complementar o conteúdo do artigo da revista
Panorama, publicamos também outras peças do mesmo período temporal, da autoria dos ceramistas participantes nas referidas mostras.
Desenvolvendo a mesma linguagem do painel de azulejo "Sofisma" (85 x 57 cm), o painel "Duende" (123 x 76 cm), também de 1959, dá-nos uma noção do cromatismo trabalhado por Maria Manuela Madureira nesta época. Ambos participaram na
Échange Culturel Mondial da
UNESCO em 1961, organizada pela
Académie
International de la Céramique de Genève, fazendo actualmente parte das colecções do
Museu de Ariana em Genebra, Suiça.
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Maria Manuela Madureira - Duende, 1959. mmm |
De Cecília de Sousa, duas jarras realizadas pela autora no ano seguinte à sua participação nas duas exposições internacionais. A primeira mede 47,5 x 17 cm e a segunda 53 x 14 cm.
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Cecília de Sousa - jarras, 1960. Imagens publicadas no catálogo A minha
segunda casa... Cecília de Sousa, obra cerâmica 1954-2004, edição do
Museu Nacional do Azulejo,
2004. |
Produzida na
Viúva Lamego, tal como as peças de Cecília de Sousa, uma jarra, com 27 cm de altura, da autoria de
Manuel
Cargaleiro (n.1927), 1956.
Hansi Staël (1913-1961), recebeu, em 1954, o Prémio Francisco de Holanda, atribuído pelo SNI e, no ano seguinte, seria galardoada com a Medalha de Honra, na Exposição Internacional
Les Chefs-d'Ouvres de la Céramique Moderne, em Cannes.
O prato de suspenção, com 39 cm de diâmetro, abaixo reproduzido, foi produzido nas Caldas da Rainha no último ano em que colaborou com a SECLA, 1957.
Quanto aos ceramistas Fernando Abranches (1920-...) e José Sanches (1916-...), o primeiro iniciou-se na cerâmica em 1950 e participou, a partir de 1951, em várias Exposições de Cerâmica Moderna organizadas pelo SNI, tendo também exposto individualmente.
O segundo trabalhou na Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego, desempenhando as funções de oleiro-rodista. Ainda no ano de 1959, ganhou o Prémio Nacional de Cerâmica Sebastião de Almeida, atribuído pelo SNI.
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José Sanches - base de candeeiro, 40 cm de altura, Viúva Lamego. © PMC |
Do escultor
João Fragoso (1913-2000), fundador do Estúdio-Escola de Cerâmica, uma figura feminina, (29 x 22,5 x 11,5 cm) pertencente à colecção do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian.
Esta obra esteve
exposta na mostra O tempo em (re)construção: A colecção de cerâmica
do CAM - Fundação Calouste Gulbenkian,
inaugurada a 7 de Julho de 2011,
no Museu Nacional do Azulejo.
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João Fragoso - sem título. Col. CAM-JAP. © CMP |
De Jorge Barradas, responsável pelo despoletar do movimento de renovação da cerâmica portuguesa após a Segunda Guerra Mundial, o painel
Máscaras (90 x 90 cm), executado na Fábrica de Cerâmica Vúva Lamego em 1959 e actualmente parte das colecções do
Museu Municipal Dr. Santos Rocha, na Figueira da Foz.
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Jorge Barradas - Máscaras, 1959. © CMP |
Finalmente, de Maria de Lourdes Castro uma taça com patine de prata (9,5 cm de altura por 23,5 cm de diâmetro), executada na Fábrica de Loiça de Sacavém, em 1958-1959.
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Lourdes Castro - taça, 1958-1959. Imagem publicada no catálogo Maria
de Lourdes Castro: Uma Exposição Biográfica, edição do Museu Nacional do Azulejo, 2005. |
CMP* agradece aos vários coleccionadores a cedência de imagens de peças das suas
colecções, bem como todas as informações e esclarecimentos prestados.