Dando continuação às publicações anteriores referentes a peças utilitárias produzidas pela
SECLA na década de 50, publicamos agora um prato coberto, de dimensões médias, decorado com o mesmo padrão de riscas verticais a preto sobre fundo branco, com apontamentos em amarelo vivo.
Este prato é um bom exemplo das transformações operadas na produção de louça doméstica no pós-Guerra, flexibilizando a oferta de modo ir de encontro às expectativas de um público mais jovem.
Começam a vender-se separadamente peças decoradas com o mesmo padrão ou em cores lisas,
como já anteriormente havíamos referido, podendo ser combinadas segundo o gosto e as necessidades de cada consumidor. Em vez dos tradicionais serviços completos, cada peça poderia ser comprada individualmente, em momentos diferentes, respeitando o orçamento das jovens famílias.
Outras peças com o mesmo motivo decorativo:
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SECLA - prato coberto, Anos 50. © CMP |
Altura total c.12 cm.
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SECLA - prato coberto, Anos 50. © CMP |
Diâmetro do prato 20 cm.
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SECLA - prato coberto, Anos 50. © CMP |
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SECLA - prato coberto, Anos 50. © CMP |
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SECLA - marca de fábrica. © CMP |
O motivo decorativo composto por riscas verticais a preto sobre fundo branco é retomado de forma livre após a Segunda Guerra Mundial, dando também origem aos chamados padrões Zebra que, a par com outros padrões animais, se tornam grande moda na década de 50.
As listas tirando partido de contrastes marcados, são parte essencial de uma gramática decorativa de inspiração africana, na sua maioria tendo por base as estampagens têxteis e as peles de animais exóticos usadas no vestuário.
Alguns dos exemplares mais significativos desta tendência foram concebidos por Maria Kohler (1923-?), designer na
Villeroy & Boch entre 1949 e 1965. A jarra abaixo reproduzida, cuja forma e padrão são da autoria de Kohler, mede c.13 cm de altura e faz parte de uma série composta por peças de formatos variados, exibindo a decoração
Lilo. Vigorosas riscas verticais, traçadas livremente, constituíram uma referência para muitas outras fábricas, tanto na Alemanha como internacionalmente.
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Villeroy & Boch - jarra modelo 4252, Maria Kohler, Anos 50. LiveAuc |
Também em Itália muitas das peças de baixo custo, destinadas à exportação ou ao comércio turístico, tiveram como motivo decorativo os traçados verticais a negro, combinados com cores primárias e branco.
Estas peças, de formas escultóricas surpreendentes, normalmente biomórficas, são provavelmente provenientes de várias manufacturas, apresentado apenas a marca "Italy", acompanhada de uma numeração referente ao modelo.
A jarra abaixo reproduzida, mede c.23 cm de altura e a sua forma evoca a configuração de uma ave, sendo comum aparecerem com o mesmo padrão jarros e vasos tubulares com formas ondulantes que, embora pouco ou nada funcionais, se assumiam como elementos centrais na decoração dos interiores da época.
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Jarra biomórfica italiana, Anos 50. eBay |
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Jarra biomórfica italiana - marca de fabrico. eBay |
Os padrões de riscas interrompidas tipo Zebra, vão multiplicar-se em toda a produção de louça doméstica ou decorativa, regra geral combinando o preto e branco do exterior com esmaltes de cores luminosas no interior, sobretudo amarelos ou vermelhos vivos.
No Reino Unido, a designer Jessie Tait (1928-2010) utiliza profusamente as linhas verticais como motivo decorativo, bem visíveis no trabalho que desenvolve ao longo de várias décadas na
Midwinter Pottery, fundada em 1910, em Burslem, Stoke-on-Trent.
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Midwinter - jarras, Jessie Tait, c.1956-60. Flickr |
A imagem acima reproduz várias jarra desenhadas por Jessie Tait para a Midwinter, decoradas com variações de padrões de riscas verticais usando a técnica da tubagem (tubelininig).
A mais alta, atrás, é decorada com o padrão Stubble; a da esquerda com o padrão Music Score; as duas da direita com o padrão Bands and Dots e a da frente à esquerda com o padrão Tonga (c.1956-60).
O padrão Zambesi foi criado por Tait em 1956 para a Fashion Shape, formato que começou a ser produzido em 1955, como parte da linha de louça utilitária Stylecraft lançada pela Midwinter em 1953, para concorrer directamente com as peças de fabrico americano, mais apelativas pela sua concepção moderna.
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Midwinter - peças de serviço de jantar Fashion Shape com padrão Zambesi, 1956. StaceyAuc. |
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Midwinter - cafeteira Fashion Shape com padrão Zambesi, 1956. eBay |
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Midwinter - marca de fábrica da cafeteira Fashion Shape. eBay |
Ainda na década de 50, a
Beswick, companhia situada em Longton, Staffordshire, lançou uma linha de louça decorativa explorando formas assimétricas e exuberantes, desenhadas por Arthur Hallam (c.1912-1976).
Estas peças eram decoradas com listas interrompidas, pretas e brancas, um padrão da autoria de Jim Hayward (1910-?), responsável pelo departamento de decoração da empresa desde 1934.
O chamado Zebra-striped Ware, catapultou a Beswick para a linha da frente da criação de tendências nos Anos 50, levando a marca a recuperar a relevância que havia tido no mercado britânico durante as décadas anteriores à Guerra, após John Beswick ter assumido, em 1921, a gestão da antiga empresa de família, fundada em 1892.
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Beswick - Zebra-striped Ware, jarra modelo 1367. © CMP |
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Beswick - Zebra-striped Ware, marca de fábrica da jarra modelo 1367. © CMP |
O Zebra-striped Ware foi o mais popular dos padrões inspirados pelo Zambesi de Jessie Tait para a Midwinter.
No entanto muitas outras fábricas produziram peças com formas e decorações semelhantes. Exemplos disso são a linha
Zebrette, da Sandland Ware, lançada pela Lancaster and Sandland Ltd., as peças utilitárias Kelsboro Ware ou as peças com formas biomórficas produzidas em menor quantidade pela
Arthur Wood.
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Grã-Bretanha - peças de várias fábricas. Flickr |
Na imagem acima figuram algumas exemplares da década de 50, de origem britânica: na fila de trás duas chávenas e pratos Kelsboro Ware; do lado esquerdo uma travessa Fashion Shape com o padrão Zambesi da Midwinter; do lado direito uma floreira Beswick e à frente um prato em forma de peixe com o padrão Zebrette, Sandland Ware.