domingo, 22 de maio de 2016

Jarra - Fábrica Cerâmica do Carvalhinho

A Fábrica Cerâmica do Carvalhinho, fundada a 13 de Novembro 1841, por Thomaz Nunes da Cunha e António Monteiro Cantarino, ambos com anterior actividade cerâmica, terá recebido a designação da Capela do Senhor do Carvalhinho, uma vez que se situava nas suas imediações, na Quinta da Fraga, mantendo-se nesta localização até c.1853-55.
Na viragem do século a indústria cerâmica nacional debate-se com a concorrência estrangeira, em especial com a entrada em Portugal de produtos vindos de França, Alemanha e Inglaterra. A sua subsistência foi dificultada pelo atraso tecnológico e deficientes infraestruturas em relação às concorrentes. Em 1923, a fábrica deslocou as suas instalações para Vila Nova de Gaia, perto da estação de caminho-de-ferro das Devesas, investindo também numa enorme modernização tecnológica, segundo os modelos das unidades industriais alemãs e inglesas, transformando-se numa das mais importantes indústrias cerâmicas da região Norte. Entre 1930 e 1965, pertenceu à Fábrica de Louça de Sacavém, acabando por encerrar em meados da década de 1980.



Fábrica do Carvalhinho - Jarra modelo A-22, c.1945-55. © CC



Fábrica do Carvalhinho - Jarra modelo A-22, detalhe, c.1945-55. © CC


A jarra bilobada aqui apresentada é o modelo A-22 e faz parte da Série A (Género moderno), como pode verificar-se pelas fotografias de catálogo reproduzidas no final desta publicação.
Uma vez que está marcada MADE IN PORTUGAL, inferimos que seja de produção posterior ao final da II Guerra Mundial, quando a legislação internacional passa a exigir este tipo de marcação. No entanto, não temos qualquer outra referência sobre a datação ou autoria do desenho do modelo.



Fábrica do Carvalhinho - Jarra modelo A-22, c.1945-55. © CC



Fábrica do Carvalhinho - Jarra modelo A-22, detalhe, c.1945-55. © CC



Fábrica do Carvalhinho - Jarra modelo A-22, c.1945-55. © CC




Fábrica do Carvalhinho - Jarra modelo A-22, marca, c.1945-55. © CC



Fábrica do Carvalhinho - Jarra modelo A-22, marca, c.1945-55. © CC



A jarra modelo A-22 mede 18,5 x 21,5 x 9 cm, tendo sido produzida com várias decorações. Abaixo reproduzimos um exemplar cujo acabamento e esmalte parecem ser posteriores, assemelhando-se a outros do mesmo período encontrados em peças da Fábrica de Loiça de Sacavém.
Embora com óbvias características formais e decorativas Art Déco, tudo indica que a Série A (Género moderno), tenha sido produzida até tarde, talvez ainda durante as décadas de 1950 a 60.



Fábrica do Carvalhinho - Jarra modelo A-22, c.1955-65. © CMP


Fábrica do Carvalhinho - Jarra modelo A-22, c.1955-65. © CMP


Fábrica do Carvalhinho - Jarra modelo A-22, c.1955-65. © CMP



Fábrica do Carvalhinho - Jarra modelo A-22, c.1955-65. © CMP



Fábrica do Carvalhinho - Jarra modelo A-22, tardoz, c.1955-65. © CMP



As fotografias de catálogo, publicadas abaixo, pertencentes ao Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso do Museu de Cerâmica de Sacavém, foram retiradas de Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém e ilustram alguma da produção moderna da Fábrica do Carvalhinho, durante a administração da Fábrica de Sacavém, entre 1930 e 1965. 
Estas peças aparecem numa tabela de preços sem data, talvez das décadas de 1930 a 40, sob a designação: Série A (Género moderno), marcando uma clara ruptura com aquela que era a regular produção da Fábrica do Carvalhinho, que continuará a ser fabricada em paralelo. A Série A (Género moderno) demonstra óbvias influências internacionais, tanto nas formas como nos vidrados, em especial da produção britânica, alemã e checa.



Série A (Género moderno) - fotografia de catálogo, Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso


Jarra A-18
Jarra A-22
Jarra A-24


Série A (Género moderno) - fotografia de catálogo, Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso


Cinzeiro A-1
Bilheteira c/ asa de palha A-3
Caixa-cigarros A-15
Cinzeiro A-16
Cestinha c/ asa A-21
Taça oval A-25


Série A (Género moderno) - fotografia de catálogo, Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso



Jarra A-11
Jarra A 13
Jarra A 14
Jarra A 19
Jarra A 20



Série A (Género moderno) - fotografia de catálogo, Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso



Jarra fantasia A-17
Jarra balão A-26
Jarra alta A-29



Série A (Género moderno) - fotografia de catálogo, Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso



Caixa oval A-27
Candelabro para 3 velas A-28
Caixa redonda A-33



CMP* agradece à coleccionadora Catarina Cardoso a cedência de imagens de peças da sua colecção.



sexta-feira, 13 de maio de 2016

A marca LUFAPO

No âmbito da reconversão da indústria cerâmica portuguesa após a II Guerra Mundial, foi reformulada a marca LUFAPO, resultando de uma operação de modernização da imagem e da produção, levada a cabo pela Companhia das Fábricas Cerâmica Lusitânia. 



Painel publicitário da Lufapo, situado nas imediações da Estação Velha, em Coimbra, recentemente retirado pela Câmara Municipal. Muito gostaríamos de saber qual o destino que lhe está reservado. © CMP


A Cerâmica Lusitânia foi fundada por Sylvain Bessière, em 1890, em Lisboa, na zona de Picoas, tendo sido deslocalizada para Estrada do Arco do Cego, provavelmente devido a uma monumental encomenda de tijolos de barro maciço, destinada à construção da Praça de Touros do Campo Pequeno, inaugurada em 1892. Segundo Isabel Cameira, autora de um opúsculo sobre a história da fábrica, esta deslocalização deveu-se ao facto de naqueles terrenos se encontrarem veios de barro de excelente qualidade e também à antevisão do proprietário da importância estratégica que aquela região teria para o desenvolvimento urbanístico da cidade, o que na realidade se veio a verificar.
Durante a década de 1920, após a morte do fundador e já sob a designação de Companhia das Fábricas Cerâmica Lusitânia, a empresa entra num período de enorme expansão, criando várias unidades de produção dedicadas a produtos diferenciados, nas imediações do edifício mãe. A partir de 1929, apesar da crise financeira internacional e das suas repercussões no mercado interno, a CFCL adquire várias unidades fabris em falência e funda novas dependências um pouco por todo o país. Para mais detalhes sobre esta expansão, ver as publicações de Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém, de 1-IX-12  e 6-III-11.


LUFAPO - caixa, 11 cm de altura. © CMP


LUFAPO - caixa, 11 cm de altura. © CMP


LUFAPO - caixa, marca. © CMP

Após a aquisição das unidades fabris de Coimbra, em 1929, e de Massarelos, em 1936, aparecem as marcas Lusitânia|Coimbra e Lusitânia|Massarelos, sofrendo várias variações de forma ao longo do tempo.

Em catálogos de finais da década de 1930 a Companhia apresentava assim as suas secções:

  • Produtos de barro vermelho (telhas, tijolos, etc.), das fábricas de Lisboa
  • Produtos de barro vermelho, das fábricas de Coimbra.
  • Produtos em barro vermelho das fábricas, de Setúbal e Montijo.
  • Produtos em barro vermelho, da fábrica de Algôs.
  • Produtos de olaria.
  • Produtos refractários, das fábricas de Lisboa.
  • Produtos refractários, das fábricas de Coimbra.
  • Manilhas e acessórios em grés, das fábricas de Lisboa e Coimbra.
  • Ladrilhos hidráulicos, das fábricas de Lisboa, Coimbra e Porto.
  • Azulejos em pasta calcária, das fábricas de Lisboa | Azulejos em pó de pedra, das fábricas de Lisboa e Coimbra.
  • Mosaicos cerâmicos, das fábricas de Coimbra.
  • Louças sanitárias em porcelana, faiança e em grés porcelana, das fábricas de Coimbra.
  • Louças em porcelana para cozinha e mesa, das fábricas de Coimbra.
  • Louças em porcelana para electricidade, das fábricas de Coimbra.
  • Cromagem, fundição e acessórios de ferro, metal e madeira para todos os nossos produtos da fábrica «Junqueira», Lisboa.
  • Louças em faiança fina, das fábricas de Coimbra e Porto (Massarelos).


Publicidade às fábricas LUFAPO, revista A Arquitectura Portuguesa e Cerâmica e Edificação, 1953© CMP



A designação LUFAPO é construída a partir das palavras LUsitânia, FAianças e POrcelanas, tendo surgido em meados da década de 1940. A fábrica, com sede em Coimbra, situava-se no Loreto, nas imediações da Estação Velha, no edifício onde hoje está instalado o Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, existindo ainda alguns edifícios pertencentes ao antigo Bairro da Lufapo.
Segundo campanha publicitária publicada na revista A Arquitectura Portuguesa e Cerâmica e Edificação, a marca LUFAPO será relançada em 1955, sendo redesenhada e aplicada em louça de design moderno, mantendo-se as marcas Lusitânia e Massarelos, usadas nos modelos tradicionais. É criado um novo logotipo, triangular, com um desenho actualizado, de maior escala e melhor legibilidade do que os anteriores.


Logotipo LUFAPO, criada em 1955. © CMP



Conhecem-se também peças modernas marcadas LUFAPO|Massarelos, com a marca mais antiga, onde a palavra Lusitânia foi substituída por LUFAPO. Como é o caso do prato reproduzido abaixo.


Prato marcado LUFAPO|Massarelos © HPS



Marca LUFAPO|Massarelos © HPS


As peças de faiança decorativa ou utilitária onde que a nova marca é aplicada, são normalmente decoradas com cores fortes e contrastantes, possuindo um enorme apelo gráfico. As formas são curvilíneas, por vezes aproximando-se das freeforms típicas da década de 1950, outras vezes mais conservadoras, retomando modelos anteriores onde são ensaiadas novas decorações. Regra geral, demonstram fortes influências da produção alemã da mesma época, como já acontecia durante o período entre as Guerras.
Para além das visitas a feiras internacionais, de onde vinham muitos dos modelos de referência, outra importante fonte eram as publicações, em especial revistas inglesas, como a Pottery Gazette, existentes nas mais importantes fábricas portuguesas. Abaixo, dois Reference Books da Pottery Gazette, encontrados na fábrica LUFAPO, como pode constatar-se pelo carimbo.


Pottery Gazette & Glass Trade Review: Reference Book and Directory, 1958 e 1966. eBay


O jarro nas imagens abaixo foi produzido com várias decorações, algumas recuperando os escorridos típicos da produção da Lusitânia, de entre as Guerras, e aparece muitas vezes acompanhado de um conjunto de copos.


LUFAPO - jarro, 31,5 cm de altura. Colecção particular. © CMP

LUFAPO - jarro, 31,5 cm de altura. Colecção particular. © CMP

LUFAPO - jarro, marca. Colecção particular. © CMP

LUFAPO - jarro, 31,5 cm de altura. Colecção particular. MdS


LUFAPO - jarra, c.30 cm de altura. Colecção particular. © CMP

LUFAPO - jarra, c.30 cm de altura. Colecção particular. © CMP



LUFAPO - jarra, marca. Colecção particular. © CMP



Nestas peças, as decorações são aplicadas manualmente, estampilhadas a aerógrafo ou a pincel. Algumas delas são pintadas com desenhos geometrizados, estilizados, criados para o efeito, estando assinadas pelo respectivo pintor. Sobre estes pintores não possuímos informação, pelo que qualquer adenda será muito bem-vinda.



LUFAPO - prato decorado com galo © CMP


LUFAPO - prato decorado com galo, marca e assinatura do pintor. © CMP





LUFAPO - floreira, c. 30 cm de altura. Colecção particular. © CMP

LUFAPO - floreira, c. 30 cm de altura. Colecção particular. © CMP

LUFAPO - floreira, c. 30 cm de altura. Colecção particular. © CMP

LUFAPO - floreira, marca. Colecção particular. © CMP



Sabe-se que a marca LUFAPO foi usada em louças domésticas e decorativas, louças sanitárias, louças electro-técnicas, azulejos lisos e decorados, mosaicos cerâmicos, ladrilhos hidráulicos, grés para canalizações e produtos refractários, segundo as publicidades da marca.

Agradecemos qualquer informação sobre os designers e pintores das peças LUFAPO.
Agradecemos também aos coleccionadores que cederam imagens das suas peças para esta publicação.