Fernando da Ponte e Sousa (1902-1990) foi um dos sócios fundadores da SECLA (Sociedade de Exportação e Cerâmica, Lda.) em 1947, para onde concebeu serviços de produção corrente e peças escultóricas de edição limitada.
Em meados da década de 50 a fábrica produziu um conjunto de figuras modeladas por Ponte e Sousa, reproduzindo, de forma expressiva e sintética, tipos populares portugueses. Figuras de pastores, pescadores, vendedeiras, varinas, etc., cujo recorte caricatural é dado pela pose e expressão do corpo, já que o rosto é sumário, isento de feições.
Outras figuras da mesma série:
Tipos populares portugueses II - Fernando da Ponte e Sousa - SECLA
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Fernando da Ponte e Sousa - Guardador de porcos, c.1955, SECLA. © CMP |
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Fernando da Ponte e Sousa - Guardador de porcos, c.1955, SECLA. © CMP |
Estas
peças de pequeno formato, são decoradas com tintas de água, em cores
fortes e planas, muitas vezes conjugadas com padrões gráficos
contrastantes. Embora se integrem no vasto reportório de tipos regionais
difundidos pelas artes decorativas e propaganda da época, em
consonância com as politicas do SNI, estas estatuetas são
particularmente influenciadas pelo universo da banda desenhada
internacional das décadas anteriores, como veremos em publicações
seguintes.
De
notar que são também contemporâneas das abordagens pictóricas
desenvolvidas por Hansi Staël (1913-1961) a partir da observação de
figuras populares da região das Caldas da Rainha e Nazaré, aplicadas em
peças modelo para produção em série, da linha denominada "Motivos
Portugueses". Duas visões complementares de temas semelhantes, propostas
por diferentes autores, no contexto da produção da mesma unidade
fabril.
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Fernando da Ponte e Sousa - Guardador de porcos, c.1955, SECLA. © CMP |
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Fernando da Ponte e Sousa - Guardador de porcos, c.1955, SECLA. © CMP |
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Fernando da Ponte e Sousa - Guardador de porcos, c.1955, SECLA. © CMP |
Começamos por publicar o
Guardador de porcos, figura típica do Alentejo, região bem conhecida do autor, onde havia sido administrador da
Herdade da Chaminé, antes de passar a residir nas Caldas, em 1947, a quando da formação da sociedade.
Como nos conta Alberto Pinto
Ribeiro (1921-1989) em A Nova
Cerâmica da Caldas (1989): "Ficaram a seu cargo as obras que
eram necessárias, para o que mandou vir um grupo de operários
alentejanos, que lá permaneceram vários anos. Era uma pessoa com boa
experiência em fotografia e com gosto, tendo mesmo modelado algumas
peças representando caracteres típicos da região, sobretudo figuras
populares."
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Fernando da Ponte e Sousa - Guardador de porcos, c.1955, SECLA. © CMP |
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Fernando da Ponte e Sousa - Guardador de porcos, detalhe, SECLA. © CMP |
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Fernando da Ponte e Sousa - Guardador de porcos, detalhe, SECLA. © CMP |
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Fernando da Ponte e Sousa - Guardador de porcos, detalhes, SECLA. © CMP |
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Fernando da Ponte e Sousa - Guardador de porcos, detalhe, SECLA. © CMP |
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Fernando da Ponte e Sousa - Guardador de porcos, detalhe, SECLA. © CMP |
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Fernando da Ponte e Sousa - Guardador de porcos, marca, SECLA. © CMP |
O
Guardador de porcos, é retratado segundo um conjunto de características também difundidas pelos
postais ilustrados, nas décadas de 30 e 40, muitas vezes em colecções, reunindo vários tipos populares portugueses, representados de forma mais ou menos estilizada, como pode observar-se no exemplar abaixo reproduzido.
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Postal, Anos 30. |
A figura é definida por um conjunto de adereços, de que fazem parte o cajado, o chapéu e o tarro, muito utilizado pelos guardadores de porcos e pastores alentejanos, bem como pelos trabalhadores agrícolas. O tarro é um recipiente de cortiça, com tampa, feito manualmente, destinado a transportar e conservar os alimentos.
Uma das particularidades curiosas nesta figura é o cajado, por ser um objecto destacável. Consiste numa pequena vara de madeira, que encaixa num orifício concebido para o efeito na base das mãos, como pode ver-se nas imagens acima, bem como o tarro pousado aos pés da figura.
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Tarro - 11 cm x 24 cm, 1920. MNE |
Modelo semelhante foi produzido como Pastor alentejano, mantendo o cajado em madeira e o tarro, e substituindo o suíno por uma ovelha. Desconhece-se qual das versões terá sido produzida em primeiro lugar, é possível que fossem, desde logo, consideradas as duas possibilidades.
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Fernando da Ponte e Sousa - Pastor, c.1955, SECLA. © CMP
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Fernando da Ponte e Sousa - Pastor, c.1955, SECLA. © CMP |
A datação proposta é apontada em função das informações fornecidas pelo catálogo
Estúdio SECLA - Uma Renovação na Cerâmica Portuguesa, edição do
Museu Nacional do Azulejo, 1999, segundo a qual Ponte e Sousa terá modelado figuras de tipos populares portugueses em meados da década de 50, no entanto a marcação referente ao modelo - P545, faz supor que sejam mais antigas, talvez do início da década.
nice ceramic blog you got
ResponderEliminarThank you :)
EliminarYours is also quite interesting.
Hope you follow us,
CMP*
Se encontrássemos uma peça dessas, até nós nos tentávamos. O porco é simplesmente delicioso (honni soit ...). :)
ResponderEliminarAgradeço elogio, em nome do porco.
EliminarAparentemente este suíno está a ficar com um invejável clube de fãs :)
Mas que bom saber de tanto afecto zootécnico! Iniciarei incessantes buscas Fernando-Ponte-Sousísticas com o maquiavélico intuito de substituir determinados afectos Modernos (mas neste caso bem muito), por outros mais figurados, ainda que sem rosto ;)
ResponderEliminarUm bom carnaval a todos, cara CMP e caros Modernos!
Imbecil Jones (H)
Que surpresa (nada)Imbecil Jones, desconhecia por completo este teu (novo) interesse!
EliminarLá vem mais concorrência :)
Boa sorte nas buscas a Norte e,
Bom Carnaval!
CMP*